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No 47ª aniversário do 25 de Abril, os cravos foram vermelhos, como sempre. Nada de cravos brancos ou pretos, isso é um disparate que diz bem da gente que temos para estar à frente de partidos que não cumprem os ideais do 25 de Abril…

A menos de um ano de Portugal assinalar tantos anos de democracia como aqueles que viveu em ditadura, a madrugada de Abril vai crescendo apesar de alguns atropelos e outras tantas inquietações.

Pela segunda vez consecutiva, o Parlamento manteve as portas semifechadas no dia em que celebrou o fim da ditadura. Por sua vez, a Avenida da Liberdade quebrou o hiato e voltou a encher-se de vermelho. Sim, de vermelho! A vontade de descer a Avenida superou as expectativas e, de cravo na mão, a apreensão do último ano deu lugar à quase naturalidade das pessoas que insistem mostrar que é assim, livremente e cravo na mão, que querem continuar a viver!

Ainda no espaço da Assembleia, sob olhares atentos dos presentes, o regresso da actuação ao vivo da banda da Guarda Nacional Republicana foi uma das mudanças mais visíveis da última cerimónia comemorativa. Tudo isto teve de ser feito assim e, espantosamente, tudo isto, com limitações, acentuou a ideia de que a democracia é, afinal, um projecto inacabado.

Por isso, desta vez também, houve no exterior, outros protestos simbólicos. Não sei bem se, por qualquer motivo particular, o líder do CDS apareceu de cravo branco e eu não concordei nada com a justificação que apresentou… Não sei bem se, para se diferenciar ou para demonstrar alguma palermice, o líder do Chega, propôs substituir os cravos vermelhos por outros negros, sem qualquer justificação madura para a mudança de cor…

Depois, no exterior, uma manifestação com poucos participantes, queria ser notada e propunha não sei bem o quê…

A manhã de palavras e lugares contados viu surgir uma tarde de reencontros, de canções de intervenção e de passos firmes por uma avenida novamente pintada de vermelho e que reflectiu o desejo grande de voltar a festejar Abril fora das janelas e varandas.

É isto Abril! Foi isto, assim, porque foram milhares aqueles que quiseram descer a Avenida. Das crianças ainda ao colo aos que têm o rosto marcado de rugas e caminham com maior esforço, o espaço da Avenida voltou a parecer pequeno…

Não estão ainda todos de acordo, bem sei, mas sei também que, no momento de celebrar, se esquecem muitos momentos duros que se viveram para que, hoje, a liberdade chegue à rua. Foram muitas lutas, muitos dias de revolta para que, hoje, quase todos se tenham esquecido do que passaram os mais velhos, tantos homens e mulheres que lutaram para que todos, hoje, possam fazer e dizer disparates sem que sejam, por isso, penalizados. Tantas histórias que se perderam no tempo… Tantas palavras que ficaram registadas e que, hoje, quase ninguém repete… A história da menina que andava nos escritos da PIDE e que, por arrastamento, era suspeita… A história da única mulher que leu um comunicado do MFA e da mulher que, sem saber, deu nome à revolução, com os seus cravos nos canos das armas. Cravos vermelhos, claro!

Tantos homens e tantas mulheres que lutaram com as armas que tinham… Essas continuam a ser personagens de um dos mais importantes acontecimentos do séc. XX português. Tantas dessas personagens, cada uma à sua maneira, foram protagonistas. Ainda que, a diferentes ritmos e cores, não haja dúvidas: Ontem [25 de abril] foi Abril outra vez!

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