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Quando era criança a minha mãe dizia-me “tu és um Maria nabiça, tudo o que vê tudo cobiça”!

Nessa idade intrigava-me o “Maria nabiça”, por ser um nome estranho e por me causar algum incómodo o “Maria”, sendo que eu na melhor das hipóteses seria um “Manel”. Também me perturbava a palavra “nabiça” cuja proveniência facilmente se percebia que derivava da palavra nabo, considerando-se que os nabos eram os palermas e os tontos que nada sabiam.

Relativamente à palavra “cobiça”, entendia já nessa altura que teria alguma aproximação ao verbo “querer”, porque a utilização do referido dito, ocorria no momento imediatamente a seguir em que eu pedia algo à minha mãe. Situações frequentes quando nos deslocávamos à Vila para as compras semanais no moderno supermercado “PaçosCoop”, cuja deslumbrante oferta de produtos, alguns anunciados na TV, não se encontravam na “Benda da Sia Linda” na aldeia de Moinhos. Ou então quando eu reclamava a posse de algum artigo aburguesado, que um dos meus amigos ostentava e eu anunciava chorosamente a tamanha injustiça de não ser merecedor de tão reluzente objecto.

E então nestas ocasiões lá surgia a famosa frase do “Maria Nabiça…”

Um pouco mais velho percebo que o “Maria nabiça” não tinha como propósito ofender e apenas cumpria a função de rimar com a palavra “cobiça”, essa sim a palavra essencial deste provérbio.

O acto de cobiçar foi-nos desde sempre desencorajado pelos pais, educadores e pela própria religião. E sempre que eramos invadidos, ainda que subtilmente por esta sensação de desejar algo que era do outro por direito, não conseguíamos evitar simultaneamente o sentimento de culpa.

Mas a cobiça parece-me legítima e até pode ser estimulante deixarmo-nos embalar por esta palavra. Cobiçar não será um “pecado”, desde que não seja a inapropriada cobiça mencionada nos dez mandamentos ou quando cobiçamos algo que outro tem e que só existe em quantidade de um, o mesmo que dizer, dois não podem ter simultaneamente.

Cobiçar algo que outras pessoas, outras empresas, outras organizações, outras terras, outros países alcançaram, será sempre uma forma de ambição, uma insatisfação que resulta na busca constante de melhores condições de vida, de maior sabedoria, de superior conforto, tendo como referência algo ou alguém que admiras por ter atingido determinado objectivo ou patamar de sucesso. A cobiça poderá ser até uma forma de reconhecimento do êxito e valor que identificas no outro.

Já diferente, mas muito diferente é o sentimento de inveja, essa palavra cujo desígnio significa menos do que a ambição de ter o que o outro tem, mas que assenta na malvada e mesquinha satisfação de desejar que o visado deixe de possuir, usufruir ou ostentar o que tenha conquistado.

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