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Estou a acabar de ler um livro muito interessante, “Os filhos da Madrugada.” São entrevistas que a autora, Anabela Mota Ribeiro, faz a homens e mulheres, todos nascidos depois do 25 de Abril… Tal como a mamã ou a titi… Procurou algum equilíbrio na escolha dos vinte e seis entrevistados: gente que veio de todo o país, Minho, Porto, Alentejo, Lisboa, Luanda ou Cabo Verde. De todas as áreas, também. Gente que hoje tem sucesso na Ciência, Cultura, Política, Sociedade. Nasceram nas décadas de 70, 80, 90, a mais nova nasceu em 2002, com raízes em Cabo Verde.

Uns vieram de meios desfavorecidos, outros não, e foi para os primeiros, sobretudo, que a Revolução de Abril mudou a vida! Hoje, a maior parte desta gente tem formação superior, muitos são doutorados. Outros não-

Achei importante que, neste país ainda envergonhado, as pessoas tenham falado de onde vieram e alguns, como disse, de um meio pobre, rural. Hoje, todos eles têm sucesso!

Gostei mais de uns do que de outros. Estes, os entrevistados, formam um retrato do que se fez em quase todos os anos de democracia quantos os de ditadura…

Gostei sobretudo de Nenny que nasceu em 2002, depois de o mundo ja ter mudado muitas vezes e, de forma radical, no ano anterior ao do seu nascimento, com o ataque às Torres Gémeas, em Nova Yorque.

Nenny é cantora, é rapper, é uma artista. Vive entre o bairro da Vialonga (Lisboa) e o Luxemburgo, onde a mãe é emigrante. A família é toda cabo-verdiana. Hoje, a Nenny é um fenómeno!

Na entrevista, Nenny disse já ter sofrido muito. De “colorismo”, como ela diz. Pela cor da sua pele, pelo nariz que tem, pelo cabelo, sobretudo. Em toda a sua vida diz ter sofrido de racismo: “Cuidado com o teu cabelo. Olha o teu nariz. Acho que estás a ficar mais escura, não devias.” Sentiu-se sempre discriminada, quase sem saber de onde veio, ou porque é assim… Sofreu muito, tanto, que chegou a querer ser outra pessoa!

Cresceu a cometer erros mas quis encontrar-se. Aos 18 anos já sabia o que queria realmente ser… Insistiu, aprendeu, insistiu… Misturou crioulo de Cabo Verde com o inglês,  o calão, o português… Criou uma espécie de língua nova, uma espécie de “língua mestiça” para incorporar essa linguagem toda. E é isso que tenta transmitir  nas suas canções. Hoje, é um enorme sucesso, um enorme contraste com o que foi a sua mãe, a sua avó… Lutou muito e, venceu! Nunca desanimou e é dela a frase que já é um lema de vida:

“Safoda a porta, vou pela window” (!)

É isso mesmo! Quando as portas se fecham e se negam as oportunidades, exeperimenta-se a janela… Um caminho novo, menos esperado, mais difícill talvez, mas, sempre possível!… Uma lição de vida!

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