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  1. Rui Rio é uma daquelas personagens que ou se ama ou se odeia. Tem uma personalidade rígida que muitos apreciam pela constância das ideias e pela defesa intransigente das mesmas, normalmente, contra tudo e contra todos. Essa é ou era a sua grande virtude aos olhos das pessoas.

As eleições autárquicas que se avizinham podem ser o fim das duas faces de Rio. O PSD não descola nas sondagens e parece que o que o tem mantido no poder do PSD (apesar de todos os ataques internos que tem sofrido) é essa aura ética impoluta que ele transporta. Se já perdeu a face dos resultados, tendo em conta o atrás referido, conjugado com resultados eleitorais anteriores muito aquém, perdeu agora a outra face que a maior parte lhe reconhecia.

Um PSD liderado por Rui Rio nunca poderia apresentar António Oliveira como candidato autárquico a Vila Nova de Gaia, Suzana Garcia como candidata autárquica à Amadora e estudar sequer a hipótese de apoiar Isaltino Morais como candidato autárquico a Oeiras.

Rui Rio tinha dois grandes trunfos pessoais quando ganhou as primeiras eleições internas no PSD: as contas certas e a sua reconhecida ética de luta pelos valores mais básicos no exercício da política. António Costa esvaziou a primeira com os consecutivos exercícios económicos de contração que levou inclusive a um ano de superavit. Rui Rio acabou de delapidar o segundo trunfo com a aceitação destes candidatos e, mais do que isso, a defesa pública da decisão, fazendo de quem o questionou um conjunto de ignorantes.

  1. Ainda relativamente a ter duas faces, fico confuso com a comoção geral seguida da recente morte de Jorge Coelho. De repente, todos aqueles que criticaram publicamente e de forma reiterada Jorge Coelho, ao longo dos anos, não conseguem parar de lançar encómios relativamente ao homem e ao profissional. Os mesmos que criticaram abertamente a sua demissão do governo em 2001 ou a sua contratação para uma grande empresa de construção civil em 2008, entre outros cargos de relevo que ele ocupou.

Tenho uma frase que deve ser bem percebida para não causar interpretações erradas: “A morte faz bem a algumas pessoas”. Lembro-me várias vezes desta frase para justificar a injustiça que muitas vezes se faz em vida a algumas pessoas (como me pareceu sempre o caso de Jorge Coelho) ou como se endeusa alguém na morte, principalmente quando essas mortes são trágicas e em tenra idade.

Temos vários exemplos no mundo dos quais destacaria a morte de JFK enquanto presidente dos Estados Unidos (lembram-se como Obama era o salvador do mundo quando foi eleito e a desilusão quando a realidade se instalou); na música temos vários exemplos como Kurt Cobain ou Amy Winehouse. Se o Bono morresse nos anos 90 seria descrito como um génio. Hoje quantos ouvem U2 conscientemente?

Por fim, a morte de Sá Carneiro (alguém se lembra do político extraordinário que era José Sócrates quando se tornou Primeiro-Ministro?). Francisco Sá Carneiro seria o vulto que é hoje, se não tivesse morrido no auge das expectativas de um povo sedento de liberdade e desenvolvimento?

As pessoas atrás referidas tornaram-se mitos porque desapareceram no auge do potencial e da expectativa, e tiveram “a sorte” de nunca ter que apresentar uma realidade. Nada na vida é tão apetecível quanto a ideia do que vai ser. A realidade é o pior que pode acontecer à ilusão.

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