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“À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta!”

Júlio César terá proferido esta célebre frase ao confirmar a sua intenção de se divorciar da sua segunda mulher, Pompeia Sula, que tendo organizado uma festa só para mulheres, um homem disfarçado entrou à revelia colocando em causa a seriedade de Pompeia, mesmo que esta não tenha tido qualquer culpa.

E com esta introdução, aparentemente eloquente, até eu dou ares de inteligente, mas reconhecendo as minhas limitações, que alguns que me leem já desconfiam, assumo que recolhi esta informação na Wikipédia.

Após este segundo parágrafo, e não entrando já no desenvolvimento pretendido com este texto, sinto o dever de tranquilizar a minha mulher, porque não tenho a intenção de fazer nenhuma dissertação sobre a robustez do nosso casamento, pois a coincidência de me chamar César não traz consigo qualquer outra. Tranquila Susana, continuamos firmes na nossa caminhada!

A frase que inicia este texto transmite-nos uma ideia de que temos de corresponder a uma imagem de idoneidade, sugerindo que apenas a nossa consciência de nada ter feito de errado não nos é suficiente em nossa defesa perante o juízo dos outros, se algo que não controlámos mina a confiabilidade que conquistámos. Esta frase fez sentido há 2100 anos assim como faz nos nossos dias, pese embora a segunda parte da frase ganhou ao longo dos anos uma importância muito maior do que a primeira, uma vez que “parecer” é uma das maiores empreitadas dos nossos dias.

Para além de queremos parecer honestos, como alude a frase de Júlio César, queremos parecer ricos, queremos parecer bonitos, queremos parecer altruístas, queremos parecer inteligentes, queremos parecer fortes, enfim, queremos parecer ser felizes, mesmo que nada sejamos.

Estranhamente sentimos uma doentia atração pelos que “parecem”, exatamente porque os que querem “parecer” incutem uma proatividade neste processo da aparência, que rapidamente se destacam daqueles que realmente são.

Não gostamos dos honestos humildes ou que tendem a ser sérios em demasia, até lhes dizemos “assim não vais longe”; não gostamos dos ricos discretos ou que têm gostos sóbreos, porque um homem rico tem de ostentar; preferimos a beleza fingida que nos vendem as revistas ao invés da honestidade das rugas; não reconhecemos os verdadeiros filantropos que amam a humanidade, mas exultamos os que tiram selfies numa esporádica distribuição da “sopa de rua”; não temos paciência para demoradas e construtivas tertúlias, ficando-nos pela rama deslumbrados com as “lapalissadas” inócuas proferidas a despropósito por um dizedor de frases feitas; rejeitamos a valentia de um construtor de casas de pedra e idolatramos o “bombado” do ginásio; achamos inadequada uma gargalhada genuína e veneramos os sorrisos forçados dos “frames”.

Gosto daqueles que não fazem questão de parecer diferentes daquilo que são, dos que não são fortes todos os dias e que assumem as suas vulnerabilidades, gosto dos que não se levam a sério e que não têm medo do ridículo.

Mas esta capacidade é muito exigente e reclama uma grande elevação do nosso carácter e amor-próprio e aí começa o círculo vicioso, dado que a nossa autoestima necessita da validação dos outros. E aí fraquejamos e começamos a disfarçar para “parecer” com aquilo que achamos que os outros validam.

Disfarçar é a nossa sina, somos escravos do espelho e do juízo dos outros!

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