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Mas no fundo até tem um bom coração!

Esta frase redentora, mostra-nos que ninguém é por sentença má pessoa e objetivamente, ninguém tem a capacidade de, em cada momento, em cada circunstância, em cada atropelo, ser sempre uma alma genuinamente boa. Somos necessariamente compostos por camadas, umas mais nobres e outras menos, umas mais admiráveis e outras mais condenáveis, mas o cerne está, em que umas são mais visíveis que outras e esta é a condição fundamental para os juízos dos outros.

Estas camadas balançam numa intrincada e complexa construção de personalidade, que assenta em duas características transversais a todos: o egoísmo e o medo!

Estes dois marcadores inatos dos nossos hábitos, determinam esta construção de camadas, condicionando as nossas atitudes na relação com os outros. Diariamente somos desafiados a colocar à prova a nossa bondade, que normalmente esbarra com a motivação primária de nos priorizarmos, confrontando-nos com dilemas que vão corrompendo as nossas virtudes. O mesmo em relação à coragem ou, em maior número de vezes, à falta dela, que não é mais que esse instinto de proteção, do qual nos envergonhamos e tendemos a disfarçar. E é neste processo entre aquilo que rege as nossas ações e aquilo que queremos que os outros vejam, que maquinalmente vamos acrescentando camadas à nossa personalidade.

Escutamos até, frases muito curiosas sobre as nossas formas de agir, que tendem a identificar quando não fomos suficientemente egoístas, ou de, aparentemente, não termos tido medo em alguma situação que o justificaria; frases como, És mesmo palerma! ou És maluco ou quê!?, indicam-nos que, provavelmente, em algum contexto, não fomos naturalmente egoístas, ou não tivemos um medo preventor e nos expusemos ao perigo.

Outra razão que potencia a necessidade de construção de uma complexa teia de camadas, é a circunstância de não termos todos o mesmo ponto de partida, e consequentemente as noções de certo e errado, de legítimo ou duvidoso, de lícito ou contestável, são necessariamente distintas. O egoísmo e o medo terão formas de se revelar mais ou menos evidentes, relacionadas com as famílias em que fomos criados, com o extrato social em que nascemos, com os países em que acabamos por viver, com as lutas a que fomos sujeitos.

Outra visão curiosa, é a nossa relação com o altruísmo e com a coragem que pode estar, precisamente, relacionada com a nossa necessidade de validação perante os outros, com a nossa autoestima. Mais do que aqueles a quem nos dispomos a ajudar com atos de verdadeira entrega e exposição ao perigo, ajudamo-nos a nós mesmos, percebendo que esta entrega nos faz sentir muito bem e que é parte de uma primária motivação egoísta, que busca a admiração dos outros.

Por isso, mesmo aquele que nos parece genuinamente mau, merece o nosso benefício da dúvida e até um interesse acrescido para entender melhor as suas motivações. Como perante aquele que emana uma aura de bondade, cuja atitude merece o nosso aplauso, também será legítimo desconfiar da esmola exagerada!

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