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A minha filha tem 18 anos, a mesma idade que teria ou terá a Maddie McCann.

O desaparecimento de Maddie teve um impacto muito evidente na minha relação umbilical com os meus filhos. Este acontecimento transportou-me para uma inevitável identificação emocional, tornando-se impossível eu não projectar na minha família uma situação semelhante.

Consequentemente tornei-me demasiado obcecado pelo controlo e percepção da segurança dos meus filhos e o medo acabou por afectar o meu discernimento.

Não tenho dúvidas que a causa desse medo foi o excesso de debate e escrutínio que os órgãos de comunicação social dedicaram ao caso. Actuação excessiva que também se revelou prejudicial relativamente à lucidez imprescindível na investigação das Polícias, que se pretenderia fosse isenta de ruído.

Com este texto pretendo alertar para quatro evidências.

  • Primeira é que esta minha atitude excessivamente protectora, resultou numa diminuição das defesas dos meus filhos e da sua capacidade de atuação quando confrontados com algum imprevisto e pior que isso, privou-os de um conjunto de liberdades que a minha geração dispôs no contato com as asperezas do “lá fora”;
  • A Segunda é que, dizem os números, desaparecem por ano em Portugal cerca de 1400 crianças e adolescentes, mesmo que só 10 sejam considerados crimes;
  • A Terceira é reconhecer que a possibilidade que dispomos de rapidamente divulgar uma destas ocorrências através das redes e das televisões é uma ajuda preciosa para uma actuação rápida e eficaz;
  • E em quarto, dizer que a preciosa ajuda referida das ferramentas de comunicação do ponto anterior, imediatamente se esboroa porque a exploração do sofrimento humano vende que nem “pãezinhos quentes”;
  • E este quarto ponto remete-me para um “não havia necessidade” de tantos “tudólogos” e criminologistas, que recorrem à criatividade mais que ao conhecimento, até porque muitas vezes não o têm, para conseguir a teoria mais disruptiva sobre o acontecimento, em vez de prestarem um serviço público eloquente, sensato e prudente.

Caberá às entidades responsáveis que zelam pela nossa segurança efectuar as investigações necessárias e dispor de todos os mecanismos importantes para a identificação dos factos ocorridos e parece-me no mínimo imprudente que uma televisão sensacionalista alvitre supostas possibilidades do ocorrido, que deixariam argumentistas de séries das “Netflix’s” envergonhados, com o único objectivo de manter o ingénuo telespectador sintonizado nestes canais e programas deploráveis.

Bem mais recente tivemos o caso de Noah e percebemos a importância da rápida divulgação do desaparecimento, que resultou numa extraordinária mobilização popular para ajudar a encontrar a criança.

Mas atente-se a todas as horas de televisão em direto, a todas as linhas escritas em jornais, revistas e todas as opiniões nos murais do Facebook, que condenaram á forca e á fogueira os pais de Noah e também já tinham condenado os pais de Madie há 14 anos, para percebermos que não estamos a caminhar no sentido da justiça, da resolução e da sensatez.

Certo que, é inevitável dispormos de juízos sobre culpa, inocência, negligência ou infortúnio dos pais de Maddie e de Noah, mas nós cidadãos comuns não temos o direito de apresentarmos este tipo condenações arbitrárias de forma irresponsável e muito menos poderiam especular de forma desmesuradamente fortuita os opinadores avulso, que dispõem de canais de grande audiência e embalados por estímulos criativos aventam teorias do “arco-da-velha”!

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