Diana Gomes é natural de Paços de Ferreira e, há dias, foi oficializada no Sevilha FC. Nos estádios espanhóis, espera evoluir enquanto atleta ao disputar “uma das melhores ligas do mundo em futebol feminino”.
Em entrevista ao IMEDIATO, a jovem falou das suas expectativas e do seu percurso desportivo, que lhe tem permitido, todos os dias, concretizar um sonho de criança enquanto jogadora de futebol profissional.
– Oficializada no Sevilha. Que fatores pesaram nesta escolha?
Espero poder evoluir ainda mais enquanto jogadora e pessoa e ter outra visibilidade que em Portugal se calhar não conseguia ter. A liga espanhola é, neste momento, das melhores ligas do mundo em futebol feminina e isso traz uma visibilidade enorme.
Quero mostrar para toda a gente o que valho e estar noutro patamar e noutros palcos. É uma boa equipa com condições incríveis.
– O que esperas da experiência em Espanha? Que diferenças prevês relativamente ao futebol nacional?
Há sempre diferenças. Em Espanha o toque de bola, a própria capacidade de reconhecer o jogo é muito diferente, a intensidade que colocam no jogo também. O próprio profissionalismo dos treinos e em tudo é muito diferente, é outro patamar, um nível muito mais profissional.
Sabendo que é uma liga muito reconhecida a nível mundial têm mais apoio comparativamente a Portugal e as próprias pessoas apoiam mais e acompanham o futebol feminino.
– És a primeira portuguesa a jogar pelo Sevilha. Sentes alguma responsabilidade acrescida?
Na verdade, não sinto muito essa responsabilidade. Vim para aqui para me tornar melhor jogadora e vou dar o meu máximo, por isso tenho a certeza de que vou representar bem o meu país e mostrar o que é a jogadora portuguesa, porque alguns clubes não têm essa noção.
– Tens algum objetivo definido para a próxima época? Individual ou coletivo? Qual foi a primeira impressão do grupo?
Não gosto de falar a nível individual, porque penso muito no coletivo e com ele acaba por vir o individual também. É o segundo treino que faço e sinto a equipa unida, toda a gente foi super simpática e acolhedora, nota-se que é um grupo que quer toda a gente forte e unida para conquistarmos coisas bonitas.
Estou a gostar muito da experiência até agora. Estava à espera de algo e na verdade está a superar as minhas expectativas, nunca pensei que fosse assim tão bom. E é isso que quero, que o nível melhore cada vez mais para que eu também melhore.
– Mudas de equipa após cinco épocas no SC Braga. O que levou à saída?
Sou uma jogadora ambiciosa. Estava no Braga há já cinco anos, não me estava a sentir a estagnar, mas que estava na hora de dar um passo em frente. Decidi que este ano era a melhor altura para o fazer, estou preparada e interiorizei que ia ser difícil mudar, mas que ia ser melhor para mim. Se queria ser ainda melhor teria de sair da minha zona de conforto.
– Quando pensas no tempo em que jogaste pelo Braga tens algum momento predileto?
Sim, claro. Quando fui campeã. Lembro-me que estávamos a jogar contra o Sporting e que quando ouvi o apito final me deitei no chão a chorar porque não estava a acreditar que éramos campeãs. Vi que todos os sonhos que tinha desde pequenina se estavam a realizar e é um momento que mesmo agora ainda me põe lágrimas nos olhos.
– Recentemente representaste a Seleção Nacional no Campeonato da Europa e marcaste um golo. Como foi a experiência?
É uma experiência única, que fica marcada para a vida. Portugal inteiro acreditou em nós e sonhou. Sabíamos que era complicado, mas é bonito chegar ao fim de um jogo e ver as notícias e que toda a gente estava a acreditar em nós, pelo trabalho que estávamos a fazer em campo.
Infelizmente não conseguimos passar à próxima fase, mas sinto que honrámos a camisola de Portugal. Acho que estamos a ter uma evolução muito grande e que, a continuar a trabalhar assim, daqui a alguns anos vamos conseguir passar à próxima fase. É esse o processo.
– Começaste no Citânia de Sanfins FC e depois no SC Freamunde. O que te puxou ao futebol? Era o teu plano A ou tinhas outras intenções?
Desde que me lembro de existir, o meu grande sonho era ser jogadora de futebol. Não sei se já vinha desde a barriga da minha mãe, mas sempre que disse que tinha esse sonho. Ia jogando na rua com os meus irmãos e lembro que me desafiavam. Os mais velhos faziam uma finta e eu queria fazer igual, passava a tarde toda a tentar.
Como jogava na rua, um senhor viu-me e sugeriu à minha mãe que me inscrevesse num clube. (…) A minha mãe não gostou muito da ideia, mas o meu pai achou piada e acabou por convencê-la. Começou assim, nas escolinhas do Citânia de Sanfins.
Sinto que não poderia ter sido de outra forma, a jogar com os rapazes. Sou a jogadora que sou graças a esse caminho, acho que todas as raparigas que começam a jogar futebol deviam fazê-lo com os rapazes, trabalhámos outras coisas mais cedo do que a jogar apenas com rapariga – a força, o remate, a própria ‘raça’ e a vontade.
– Sempre sentiste o apoio dos teus colegas?
Sim, sempre foram disponíveis para mim. Mesmo quando rapazes de outras equipas se metiam comigo durante um jogo vinham logo todos apoiar-me. A maioria andava comigo na escola e o mesmo acontecia, sempre tiveram um carinho muito especial por mim.
É hoje o dia em que ainda falo com alguns e dizem que se sentem orgulhosos da minha caminhada e continuam a falar comigo. São amizades que se levam para a vida toda.
– Tens alguma memória com mais destaque os teus tempos nestes dois clubes?
No Citânia lembro-me bem da fase final de um torneio no estádio do FC Paços de Ferreira. Jogamos com equipas maiores, mas lembro-me que fizemos uma boa imagem e ficamos nos primeiros lugares. Fizemos uns grandes jogos e ainda por cima jogámos no estádio do Paços, de relva natural, lembro-me muito bem.
No Freamunde lembro-me de muitos bons momentos que tive, principalmente de quando ganhamos a Taça de Promoção e foi algo muito bom.
– Como tens visto a evolução do futebol feminino na nossa região? Consideras que tem seguido a tendência nacional ou que ainda há muito por fazer?
A nível nacional, acho que o futebol feminino está a ter uma progressão muito grande. Contudo, na nossa região acho que ainda está muito aquém.
Por exemplo, temos equipas grandes como o FC Paços de Ferreira ou o SC Freamunde. O Paços joga na Primeira Divisão, se calhar poderia criar e puxar pelo futebol feminino e, quem sabe, jogar na Liga BPI [Primeira Divisão de Futebol Feminino].
Nunca me esqueço de uma rapariga que conheci quando fui monitora numa colónia de férias. Jogava mesmo muito bem e sei que agora está no Citânia de Sanfins, mas que daqui a nada vai deixar de ter idade para estar lá. Para onde pode ir, na nossa zona, para continuar a crescer?
Conheço outra rapariga que faz viagens três vezes por semana para Braga, está nas camadas jovens. Acho que na nossa zona tínhamos capacidade de ter boas equipas de futebol feminino e lutar e querer mais.