férias / ecofeminismo / Metamorfose / Empatia / Vale do Sousa / Guerra / Estado / Raiz / Progresso / Mobilidade / Vale do Sousa / feminino / Festa /Património / Ambiente / Regionalização / Discurso / O imperativo ético do Vacinar

Não há discurso algum que, hoje em dia, dispense o tema do ambiente. Preservar a natureza e combater os efeitos climáticos tornou-se o motivo ideológico que vai marcando o desenvolvimento da subjetividade, pelo menos aquela ocidental. Uma espécie de ética em que se pretende incluir todo o ser humano.

Mas, e a natureza? Tratamos a natureza como tratamos os nossos filhos. A partir, essencialmente da revolução industrial, os filhos, com exceção daqueles de classes abastadas, eram concebidos para engrossar a força de trabalho, as infâncias eram sacrificadas em prol da produção. O mesmo aconteceu com a exploração da natureza. Com o andar dos tempos a incorporação da força de trabalho foi sendo feito cada vez com idade superior, as crianças passaram a ir á escola, a ter outras atividades. Algo que na contemporaneidade roça extremos em que as crianças quase não têm infância de tantas atividades que lhe impingem. No entanto, não há dúvida que são seres humanos diferentes, mais evoluídos e esteticamente, de acordo com o que se aceita nestes tempos, mais atraentes. O mesmo vai acontecendo com a natureza, à medida que as preocupações foram aumentando, a população ocidental, foi criando condições para moldar a natureza de acordo com uma estética que apazigua consciências. Tal como dificilmente alguém perguntou ou pergunta a uma criança se a orientação que lhe é dada corresponde ao que ela pretende, o mesmo acontece com a natureza. Não, não há ridículo aqui, porque não se trata de interrogar a natureza, mas sim de interpretar a resposta que ela dá, algo em que continuamos a falhar.

Esta interpretação terá que ser feita a partir do questionamento sobre o que é a preservação da natureza. Em nome dessa preservação criam-se parques que se dizem “naturais”, mas que são fabricados a partir de estéticas convencionadas pelo sentir do humano no momento. São ainda preservados de acordo com a técnica, não por processos que decorrem da natureza. Plantam-se árvores e plantas, muitas que não se adequam ao clima e terras onde o fazem. Para tal utilizam-se fertilizantes químicos, recorre-se a uma miríade de produtos para as manter, sistemas de rega mais ou menos evoluídos. Quando se atua em margens de rios, praias, matas, ou qualquer outro tipo de habitat, sistematicamente a modelação é de acordo com considerações de natureza humana. Implantam-se caminhos, passadiços e outras coisas que tais, como expoente de contato com a natureza.

Limpa-se não só a sujidade que o homem depositou, mas também aquela que considera, que a natureza também deposita, de forma a ficar “bonito”, para que depois possamos usar de forma lúdica. Um bonito que alimenta o ego de muitos, que nos faz sentir melhor. Um lúdico de uma comunhão plástica com a natureza. Numa espécie de tentar reviver o aspeto essencial do viver, não da vida, essa dá-se de qualquer forma. Um viver em que a natureza servia apenas para fornecer matérias para alimentar e criar objetos para a subsistência. A partir do momento em que a humanidade passou a distanciar-se desta relação, aquela que apenas permitia a subsistência, incrementando toda uma série de camadas que alimentam a economia, já não é a natureza que se pretende preservar mas sim o aparato com que mantêm a economia a crescer, como se tal pudesse acontecer de forma indefinida. Isto não é a defesa de que devemos voltar aos tempos primitivos, é antes voltar a reflexão sobre a preservação da liberdade, aquela que só se encontra no viver, que é algo que hoje, relativamente ao ser, se encontra muito perto da morte.

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