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Defendo o politicamente correto por considerar que é um regulador necessário na forma como nos relacionamos em comunidade, sendo que a importância é tão mais relevante dependendo do grau protocolo dos atos onde interagimos. Na mesma medida rejeito a ditadura do comportamento que pretende defender sensibilidades de grupos de conservadores saloios ou de ativistas intolerantes que se erguem na defesa das mais variadas causas.

Cada um deverá ser responsável por aquilo que expõe às suas audiências e as audiências terão o direito de ajuizar. E com base nessa apreciação considerar se essa pessoa merece a sua atenção, o seu repudio ou mesmo a sua indiferença.

Não me parece adequado limitarmos alguém na sua liberdade de expressão, intenções normalmente manifestadas em massivas tentativas de cancelamento, mesmo que aquilo que expõe nos pareça desajustado, mesmo que a posição que defenda seja controversa ou deselegante, ainda que emita uma opinião considerada discutível ou de mau gosto.

Também fazem falta de pessoas menos polidas, pessoas menos higienizadas, que se permitem percorrer um caminho mais exíguo, que assumem posições disruptivas. Gosto de pessoas que rompem com as normas, aprendo com elas, provavelmente.

O futebol precisa de adeptos faciosos, adeptos que movidos pela paixão perdem a noção do certo e do errado; a arte precisa de provocadores, de artistas que despenteiem a ordem; em momentos de diversão precisamos de gente que não se leva a sério e que não tem medo do ridículo; até o sexo beneficia com a perda do controlo e com o indecoroso!

A liberdade que devemos adotar é precisamente a que te permite mostrar o que te vai na alma, aceitando tranquilamente o inevitável juízo dos outros e a justiça do todo.

O músico tem de ter a liberdade responsável de decidir o rumo do seu processo criativo; o curador de uma exposição tem de ter a liberdade responsável de selecionar as peças que decidiu exibir no âmbito da exposição que concretiza; um escritor tem de ter a liberdade responsável de escrever as palavras que lhe são ditadas pela alma; um cineasta tem de ter a liberdade responsável de decidir a história que quer partilhar e a forma que achou mais ajustada de a colocar em tela; um humorista tem de ter a liberdade responsável de dizer as suas piadas sejam elas brejeiras, inteligentes, sujas, picantes, eruditas ou negras.

E depois existe o público, a audiência, que tem a liberdade responsável de escolher, sendo que as suas escolhas serão fruto das viagens que fez, dos livros que leu, das tertúlias que participou, dos espetáculos que viu, da informação que recolheu, no fundo as suas escolhas serão submetidas ao escrutínio do mais nobre dos investimentos, a literacia.

Censurar conteúdos como cortar imagens de filmes consideradas impróprias, corrigir passagens livros que se consideram discutíveis ou desadaptadas dos dias de hoje, cancelar músicas por não corresponderem a uma opinião consensual ou até colocar irritantes piiii’s sobre o vernáculo, são sempre formas condescendentes de educar que não permitem uma educação mais honesta que passa pelo direito à escolha.

Toda e qualquer pessoa terá de ter liberdade na sua expressão e simultaneamente terá de lidar com a rejeição de quem não gosta, com o acolhimento de quem o idolatra, com a indiferença de quem não quer saber ou até com uma ação em tribunal de quem se sentiu ferido na sua dignidade, mas sem cancelamentos ou lápis azuis.

 

 

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