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Submetidos ao escrutínio de algumas bitolas que nos mesuram, concluímos que nunca somos suficientes. Não temos a altura ideal ou o peso certo, a nossa forma física será sempre deficitária, não somos suficientemente belos, nunca seremos satisfatoriamente ricos, nunca viajaremos o que desejaríamos, consideramos parcos os nossos talentos e pior que esta nossa insana insuficiência, sentimos que também não arrebatamos os outros como gostaríamos. Mas tentamos, tentamos sempre colocar a nossa singela “vidinha” sob um falacioso zoom, que nos tende a projetar uns degraus acima.

E se ao invés de esta nossa manifesta insuficiência ser medida nas futilidades elencadas, nos sentíssemos frustrados com o compromisso com os outros, com o planeta e que isso nos fizesse palpitar em atitudes de puro altruísmo. Não para nos exultarmos perante os outros, mas como um desígnio.

Às vezes temos de saber distinguir quando as pessoas precisam de verdadeira ajuda e não apenas de um mero encorajamento. Encorajar é muito fácil, uma mensagem de conforto é fácil, uma publicação a alertar para uma causa é fácil, lamentar as atrocidades desconcertantes que identificamos ao redor é fácil, escrever um texto a lamentar isto tudo é fácil; difícil é ajudar de forma efetiva, presencial, abdicando dos nossos próprios interesses.

Enleados neste novelo que tentamos manter desensarilhado, vamos cumprindo os nossos papéis no seio familiar, no âmbito profissional e nas redes relacionais, mas somos extraordinariamente insuficientes e desapontamos naquele que considero que deveria ser o nosso principal propósito, desapontamos no nosso desempenho solidário, na nossa benevolência, no nosso ativismo social.

Todos conseguimos em determinado momento ter um ato de puro altruísmo, mas manter uma constante atitude filantrópica não está ao alcance da maioria. Um lampejo de amor até um malvado pode ter, não vos parece?

Vamos aos repelões participando em alguns eventos de cariz social ou empaticamente nalgum movimento que por uma qualquer circunstância se tornou mediático, muitas vezes com a intenção de mostrarmos um sentido humanista que raramente está presente nas nossas atitudes diárias. Mas manter uma constância de genuína entrega nas nossas ações, abdicar de nós em prol dos outros, conseguir pautar as nossas iniciativas e propósitos de vida desprovidos de qualquer egoísmo ou benefício, isso já só está ao alcance de alguns eleitos.

Sirvo deste texto para fazer a aclamação daqueles predestinados que abdicam das suas vidas, do seu conforto, da sua serena tranquilidade para se dedicarem a causas; médicos que vão para lugares longínquos em condições precárias, com o propósito de salvar vidas que a geografia da sua natalidade condenou; voluntários que se dispõem a defender povos desumanamente violentados por invasores; jovens que participam ativamente em eventos de ajuda humanitária abdicando dos seus prazerosos hobbies de privilegiados capitalistas; ativistas que como propósito de vida saltam fora do seu conforto para lutar por algo em que acreditam, confrontando poderes instituídos que não poucas vezes fazer perigar a sua vida; ou aqueles que abdicam de si e dos que lhe são mais próximos para estar junto dos mais vulneráveis, das minorias que a nossa estranha construção de sociedade ostraciza.

É neste plano que me sinto insuficiente, mais que isso, sinto-me um cobarde que finge não ver, dando preferência a conteúdos de ficção, fugindo às matérias que nos expõem à verdade, que nos atormentam ao revelar-nos as injustiças do mundo e as incongruências do Ser Humano.

Num mundo, não direi perfeito, porque num mundo perfeito a solidariedade não deveria ser fundamental, mas num mundo saudável, o sucesso em vez de estar ligado à aparência, ao dinheiro e ao poder deveria estar relacionado com a nossa generosidade, com a nossa dedicação à felicidade dos outros, convicto que desta forma a nossa felicidade também estaria garantida.

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