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Sim, refiro-me a António Costa. O que António Costa fez nas últimas eleições legislativas é um dos maiores feitos políticos do pós 25 de Abril de 1974. Uma vitória a todos os níveis notável, além de inesperada. Pela primeira vez, a minha geração viu o tão badalado voto útil a funcionar, o que conjugado com outros fatores (não haver coligação entre PDS e CDS e a enorme dispersão de votos sem mandatos) levou à maioria absoluta mais renhida da democracia.

Os resultados eleitorais de António Costa foram sempre em crescendo e essa é uma marca indelével e assinalável numa área tão escrutinada e pública como a ação política em cargos executivos. Relembremos que as eleições e vitórias autárquicas de António Costa em Lisboa começaram por ser de 29% em 2007, cresceram para 44% em 2009 e culminaram em 50% em 2013. Nas eleições internas de 2014, apesar da forma por muitos considerada oportunista de como se apresenta a tomar o poder, há uma vitória indiscutível que o prepara para as legislativas de 2015. O timing revelou-se perfeito dado que provoca eleições internas após a famosa frase de poucochinho, referindo-se à vitória ténue que o PS teve nas eleições europeias de 2014. António Costa apresenta-se como candidato à liderança do PS, respaldado numa vitória clara nas eleições autárquicas em Lisboa, com os já referidos mais de 50%, e a pouco mais de um ano das eleições legislativas (tempo ótimo para preparação e evitar desgaste).

Nas eleições de 2015 perde, mas torna-se o vencedor poucos dias depois quando se começa a perceber que é possível um entendimento à esquerda que pode levar António Costa a Primeiro-Ministro. O acordo parlamentar cai como uma bomba no panorama político português e mostra bem a preparação e argúcia de António Costa. Mais uma vez há uma continuidade no aumento dos votos dados que o PS passa de 32% em 2015, para 36% em 2019 e finalmente para 41% em 2022. Há claramente um padrão de crescimento nos votos à medida que António Costa vai a eleições e isso é indesmentível e até um pouco surpreendente tendo em conta as constantes acusações de falta de empatia que muitas vezes ele transmite. Naturalmente que as circunstâncias que levaram às eleições antecipadas do passado mês de janeiro ajudaram ao último resultado, mas os portugueses tinham uma alternativa que leva 4 anos de oposição e palco público e a escolha do povo foi clara.

António Costa mostrou que é definitivamente o político português mais importante dos últimos 30 anos (em Portugal) pelas razões anunciadas atrás, mas também pelo facto de se manter como Primeiro-Ministro apesar dos convites que certamente teve para um cargo europeu e por manter em banho-maria as várias aparições internas para a sua substituição (ficou famosa a lapidar frase “Aviso já que não meti os papéis para a reforma”). Em contraponto, esta vitória nas legislativas de 2022 pode ter arrumado Pedro Nuno Santos da tomada de poder que ele preparava no PS. Quatro anos e meio é muito tempo (a duração da próxima legislatura), as bases de apoio que certamente já estavam preparadas vão ter que se ajustar e arregimentar novamente em volta do líder António Costa para sobreviverem e sabemos por experiências anteriores, neste e noutros partidos, que a ideologia e a lealdade estão intimamente ligadas ao sentido de sobrevivência de cada um….

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