Aparentemente, o clima social está a abrandar em França… Muitos distúrbios, confusão, estragos, muita rebeldia nas ruas de Paris e outras cidades francesas… Nos últimos dias, muitos jovens rebeldes têm enchido as ruas, depois da morte de um adolescente em Nanterre. Houve, continua a haver uma grande distância face ao que aconteceu em Maio de 2020, quando George Floyd, foi assassinado às mãos de agentes policiais em Mineápolis. As vítimas não pertencem à mesma faixa etária, os protestos não chegam da mesma forma para mostrar a revolta e o desalento e, o próprio contexto político também é diferente. Emmanuel Macron não é Donald Trump e os objectivos dos manifestantes também são diferentes…
O grande debate que inundou a praça pública foi, tinha que ser, sobre o racismo, a violência policial e o uso da força por parte das autoridades. Toda a discussão foi, continua a ser, sobre o racismo e violência mas também, parece-me, sobre imigração e más condições de vida…
O que aconteceu realmente, já todos sabem. Nahel, filho único, estudante ocasional, entregador de pizzas, já conhecido da polícia por delitos menores, francês de ascendência magrebina, morreu na sequência de um disparo que o atingiu no peito. Aconteceu, depois de ter tentado escapar de uma operação “stop”. Tudo filmado e partilhado quase em directo…
Neste momento, depois deste momento, os que viram, os que assistiram à tragédia, terão ficado chocados e a pensar que, ninguém deveria morrer num contexto destes… Nem em Nanterre, nem em Mineápolis, nem em parte alguma do mundo. Isto é racismo, é violência, é o estado violento a que o mundo chegou!
Depois, em França, em diferentes cidades, onde Paris também se integra, houve, ainda há, protestos violentos e descontrolados, à semelhança dos tumultos que o assassinato de George Floyd provocou em 2020 nos Estados Unidos. É quase a mesma situação, é quase a mesma falta de respostas sociais para os problemas concretos dos sectores mais desfavorecidos da sociedade. Isto é, está a ser, uma enorme reacção violenta racista, um enorme perigo de contágio para os países da Europa, em especial. Uma coisa é certa. Enquanto o poder acreditar que o verdadeiro problema está nos milhares de carros incendiados, nas centenas ou milhares de pessoas detidas, os adolescentes, sobretudo os adolescentes que protestam, não vão desarmar. Porque isto é racismo e quase ninguém os vai impedir de agir…
Volto ao ponto em que comecei este texto. Nahel foi assassinado e isso contradiz a missão de qualquer força especial: proteger! A actuação daquele agente foi indesculpável. É preocupante porque demonstra que as forças policiais não têm a capacidade para analisar e distinguir qualquer situação com maior ou menor gravidade. O que aconteceu em França, como cá também pode acontecer, é esclarecedor. Porque existe, lá e cá, um conflito latente entre polícias e alguns jovens. Ou outros jovens. A raiva, quase sempre, é tão irredutível que chega a sobreviver à morte… Entre jovens de bairros pobres e polícias armados… Forças policiais que têm a obrigação de manter a ordem e a segurança e que, ao disparar, provocam o caos… Ninguém gosta de ver carros a arder, estilhaços e montras partidas… E, aqueles jovens são movidos pela sede de justiça, não só em França! A desigualdade social também provoca abusos por parte da polícia… E, muitas vezes, isso é racismo!…
