Diz o povo que “depois de casa roubada, trancas à porta” e foi o que sucedeu na associação penafidelense APADIMP (Associação de Pais e Amigos dos Diminuídos Mentais de Penafiel), que depois de o seu presidente ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória em janeiro do ano passado, instalou um Desfibrilhador Automático Externo e deu formação a 18 funcionárias para poderem saber como utilizar o aparelho.
A partir de agora, a APADIMP tem um Desfibrilhador Automático Externo e 18 das suas funcionárias estão capacitadas para o usar em caso de urgência. “Esta uma lacuna que existia na instituição. Esperemos que não tenham que o utilizar, mas se tiverem que o fazer que tenham o sucesso que tiveram comigo”, referiu Manuel Lopes, presidente da instituição, que sofreu um episódio “traumático” no dia 31 de janeiro de 2024, tendo sido socorrido por Mónica Teixeira, uma psicóloga da instituição, que também é bombeiros Voluntária e que tem formação em socorro. “Os dez minutos em que ela me prestou assistência foram o que me valeu para estar aqui”, assegurou o presidente, que esteve cerca de um ano em coma, devido ao acidente vascular respiratório que sofreu.
A iniciativa partiu da direção e depressa foi colocada em prática. “Nunca tínhamos pensado nisso, porque felizmente nunca tinha sido necessário. Mas depois do que sucedeu, decidimos ter um aparelho para que nunca mais fosse preciso utilizar”, referiu João Oliveira, vice-presidente da instituição.
Assim, a instituição adquiriu o equipamento e com o apoio da ANESC – Associação Nacional de Emergência, Socorro e Catástrofe, que ofereceu a formação, capacitou 18 elementos da equipa para poderem iniciar manobras de suporte básico de vida em caso de paragem cardiorrespiratória.
“Termos conhecimento ajuda-nos a estar mais calmos e confiantes”
Sílvia Ferreira é funcionária há 20 anos e foi uma das trabalhadoras formada em suporte básico de vida. “Já temos algumas colegas que sabem aplicar manobras relacionadas com o engasgamento que já tiveram que aplicar. Mas nunca tinha acontecido nenhuma paragem cardiorrespiratória, que é uma situação que nos assusta muito a todos”, referiu. “Esperemos não precisar de usar, mas temos que estar preparados para essa situação e o facto de termos conhecimento ajuda-nos a estar mais calmos e confiantes se houver alguma necessidade”, acrescentou, certa de que é “uma mais valia”.
“São máquinas destas que salvam vidas”
Mónica Teixeira é psicóloga e bombeira voluntária, foi quem socorreu o presidente da APADIMP no dia em que este entrou em paragem cardiorrespiratória e defendeu a necessidade destes equipamentos. “Fazem toda a diferença e têm que existir cada vez mais, porque são máquinas destas que salvam vidas”, referiu.
Apenas 19% dos portugueses sabem prestar suporte básico de vida
Filipe Serralva, da ANESC, empresa focada principalmente no suporte básico de vida, seguido da desfibrilhação automática externa, manifestou-se satisfeito com o facto de a instituição passar a contar com o equipamento, licenciado pelo INEM.
Segundo o também médico, o equipamento vai permitir a utentes e funcionários “estarem mais seguros”, destacou a importância de as pessoas estarem preparadas para estas situações, num país ainda aquém de outros países da Europa. “Os números são assombrosos. Em Portugal, apenas 19% da população faz suporte básico de vida numa situação de paragem cardiorrespiratória antes de chegar o socorro especializado, quando a média europeia é de 58%, três vezes mais, havendo países que têm números a rondar os 85%. E nós temos que sair da cauda da Europa, temos que nos aproximar da média europeia”, referiu, acrescentando que “a taxa de sobrevivência de alta hospitalar de uma paragem cardiorrespiratória varia entre o dobro e o triplo se houver manobras de suporte básico de vida quando acontece”, concluiu.