Vai nascer em Paços de Ferreira um Centro de Tecnologia e Inovação dedicado à produção, difusão e transmissão de conhecimento, orientado para as empresas, e para a criação de valor económico no setor da madeira e mobiliário.
No passado dia 27 de maio foi já constituída a associação promotora, denominada INOMMOB – Centro de Tecnologia e Inovação para a Madeira e Mobiliário e que soma os esforços de prestigiadas entidades como a Universidade do Minho, Universidade de Aveiro, INESC TEC, Instituto Politécnico do Porto, Instituto Politécnico de Viseu, APIMA (Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins), AIMPP (Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal), AEPF (Associação Empresarial de Paços de Ferreira), ASEP (Associação de Empresas de Paredes), Moveltex, Profisousa, e ainda os municípios de Paços de Ferreira, Paredes bem como a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa.
Em breve serão conduzidas sessões de divulgação pública tendo em vista a mobilização de demais empresas, associações empresariais, entidades do sistema científico e tecnológico e entidades públicas relevantes para o âmbito de intervenção do centro.
Segundo Patrícia Castro, coordenadora do projeto, juntamente com a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, o INOMMOB terá como principais objetivos prestar apoio técnico e tecnológico às empresas, promover a valorização económica do conhecimento tendente à introdução de novos produtos, serviços e processos industriais, assim como a difusão de técnicas e tecnologias, nomeadamente as relacionadas com áreas como a digitalização da economia, eficiência energética e economia circular.
O centro trabalhará ainda na promoção de atividades de investigação, desenvolvimento e inovação (I&D+I), e permitirá o apoio à condução de testes e certificações relevantes para o setor, estimulando a modernização dos setores tradicionais e a afirmação de setores emergentes.
Pese embora seja um projeto de alcance regional e nacional, para todo o setor da madeira e mobiliário, o INOMMOB tem particular relevância para a NUT III do Tâmega e Sousa, em cujo concelho de Paços de Ferreira dependem, pelo menos, 30% das pessoas ao serviço. O centro foi sinalizado enquanto projeto estratégico pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, revestindo-se de grande importância para a estratégia de desenvolvimento do território para o período correspondente à execução do Portugal 2030. O INOMMOB foi então constituído com sede em Paços de Ferreira, devendo também ser assegurada no concelho a edificação das respetivas infraestruturas tecnológicas, incluindo espaços laboratoriais e de testes, de modo a apoiar o conjunto de serviços prestados.
“O Plano Preliminar de Arquitetura que foi elaborado fixa em 10 milhões de euros o valor da infraestrutura e equipamentos tecnológicos, podendo o investimento ser realizado de forma faseada. A associação INOMMOB deverá concorrer brevemente à linha de Investimento em Infraestruturas Tecnológicas, no âmbito do Portugal 2030”, explicou Patrícia Castro, acrescentando que “o município de Paços de Ferreira se comprometeu com a disponibilização do espaço, bem como o cofinanciamento da parte que não será assegurada pelos fundos europeus”.
O plano de negócios está em fase de finalização, mas será apenas divulgado no final do ano. O mesmo deverá considerar o arranque de atividades a partir de 2025, e sobretudo para o conjunto de projetos e áreas que não careçam da infraestruturação tecnológica, cuja inauguração se prevê para início de 2027.
Segundo Patrícia Castro, “o sucesso deste trabalho em muito dependerá da qualidade das equipas de gestão envolvidas, ressalvando-se desde já que, na génese do INOMMOB estão entidades do sistema científico e tecnológico nacional, de grande valor técnico e humano, bem como experiência na gestão de centros de tecnologia e inovação e para os mais diversos setores”.
Pensado para uma região onde o setor da madeira e sobretudo do mobiliário são muito relevantes, Paços de Ferreira e Paredes (que concentram aproximadamente 37% das pessoas ao serviço no setor do mobiliário em Portugal) “serão beneficiários diretos do valor aportado por uma infraestrutura dedicada ao avanço tecnológico dos setores que são estruturantes nas suas economias”. Contudo, para além do impacto na geração de projetos empresariais com maior valor acrescentado, “os esforços do INOMMOB permitirão a criação de mais condições de oportunidade ao longo de setores complementares, de também grande importância regional, como é o caso do setor têxtil, pela integração de têxteis técnicos, inteligentes e funcionais no habitat”.
O maior desafio será “a sensibilização da comunidade quanto ao impacto económico e social que estas infraestruturas tecnológicas trazem, mas com frequência a médio/longo prazo”, explicou Patrícia Castro. “O contributo dos CTI fixa-se desde logo na competitividade das organizações que são servidas, mas sobretudo no estímulo ao emprego mais qualificado, capaz de gerar maior valor acrescentado para a economia e com melhores condições de remuneração para todos. É preciso “dar tempo ao tempo”, e compreender que o resultado do esforço de hoje precisará ser analisado num espaço temporal mais alargado. E é preciso que o percurso seja feito com equipas especializadas e resilientes, capazes de sustentar cada desafio que se levantar. Além da sensibilização e envolvimento de uma rede de stakeholders da fi leira da madeira e mobiliário, e num registo mais operacional, somar-se-ão ainda outros desafios tais como a diversificação das fontes de financiamento, a atração de talento, o desenvolvimento de projetos de inovação num contexto de forte multidisciplinariedade e a construção de uma cultura de inovação”, concluiu.
INOMMOB é “um projeto de alcance nacional”
Humberto Brito, presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, disse ao IMEDIATO que o INOMMOB – Centro de Tecnologia e Inovação para a Madeira e Mobiliário “é um projeto de alcance nacional, para uma fi leira que representa mais de 7,5 mil milhões de euros em volume de negócios”. “Se atendermos particularmente ao mobiliário, quase 40% do volume de negócios está concentrado no Vale do Sousa, particularmente em Paços de Ferreira e Paredes”, referiu o autarca, certo de que “o INOMMOB vai ser uma peça fundamental de apoio à competitividade local e regional porque vai aproximar os centros de saber científico e tecnológico, estimulando e tornando mais democratizado o exercício de inovação pelas pessoas e pelas empresas. E é esse valor que depois melhora a nossa condição de vida”.
Para o autarca, este projeto vai criar “melhores empresas”. “A indústria é um veículo, mas os serviços também o são. Estamos interessados em captar a atenção e investimento de outros projetos e setores tecnológicos que, juntamente com a nossa base industrial, elevem o valor económico do nosso concelho”, garantiu.
O Centro, vai ser criado em Paços de Ferreira, um concelho que tem, segundo o autarca, “orgulho na sua matriz identitária enquanto Capital do Móvel”, marca onde assenta grande parte da economia neste setor. “Por isso, interessa- -nos desde logo estar envolvidos com projetos de grande valor acrescentado que vão contribuir para criar melhores condições de emprego, competitividade e exportação para as nossas quase 6000 empresas, e sobretudo para as quase 7.500 pessoas que diariamente e no concelho trabalham na indústria do mobiliário”, acrescentou.
O INOMMOB tem vindo a ser defendido pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, “mas a partir da forte convicção e envolvimento que temos dado nos últimos anos à construção deste sonho tão antigo”, referiu Humberto Brito, explicando que, “sobretudo nos últimos dois anos, temos contribuído para financiar as equipas e serviços técnicos envolvidos na preparação do projeto e temos também investido no conhecimento de espaços congéneres na Europa para garantir que estaremos a apoiar uma iniciativa de referência internacional”. “Mais importante ainda, o projeto é concretizado porque o município de Paços de Ferreira assumiu o compromisso perante o cofinanciamento da infraestrutura tecnológica que lhe está associada, e isso deve demonstrar o empenho que temos num projeto multigeracional de longo prazo. Estamos totalmente comprometidos com o futuro e este projeto precisa ser entendido muito além do dia de hoje”, assegurou, certo de que este investimento “resulta em empresas mais competitivas, mais resilientes, e em pessoas melhor remuneradas”. “Cremos que, com projetos como o Centro de Tecnologia e Inovação, e outros que se sucedam em termos de desenvolvimento económico, tenhamos a capacidade de escalar esta trajetória positiva, e sobretudo melhorar os rácios de produtividade, remuneração dos trabalhadores, e valor acrescentado bruto por pessoa ao serviço”, acrescentou.
Para o autarca, as infraestruturas tecnológicas são “polos de atração e de fixação de recursos humanos qualificados e também influenciam decisões de localização das empresas”. “O projeto é assim estruturante a demais ações materiais e imateriais a que nos propomos em matéria de desenvolvimento económico e social, o que nos permitirá desde logo criar condições mais alargadas no domínio da formação profissional, da incubação de empresas e do apoio aos seus negócios. Acredito também que, a partir deste espaço e através de complementares esforços de captação de investimento de outros ativos, seja possível atrair demais ativos externos do sistema científico e tecnológico nacional, incluindo o ensino superior”, concluiu.
“É uma necessidade extrema para o setor”, refere Gualter Morgado, da APIMA
Para Gualter Morgado, a APIMA, o centro tecnológico é “uma necessidade extrema do setor, porque não temos em Portugal nenhum sítio onde possamos fazer a certificação do mobiliário e estamos dependentes de centro externos, o que condiciona a possibilidade de exportar, porque ficamos em segundo plano e com custos acrescidos, já que temos que levar os produtos para fora do país para a certificação”, referiu, acrescentando que “ao não controlarmos a certificação, por estarmos dependentes de empresas internacionais, podemos ficar fora de negócios importantes”.
Outro fator que destaca relativamente ao Centro, está associado à investigação. “Temos boas universidades, bons investigadores, bons centros, mas a taxa de aproveitamento desse conhecimento pelas empresas portuguesas é muito baixa, porque tem faltado esta ponte, para levar este conhecimento dos centros de investigação para as empresas. O setor tem exportado, mas pode ganhar vantagem competitiva se tivermos esta resposta mais rápida dentro do território nacional”, assegurou.
As expetativas para o centro tecnológico são de que se possa ser “mais um meio de alavancar a competitividade das empresas portuguesas nos mercados internacionais”. “E o principal desafio é conseguir, num curto espaço de tempo, pôr em funcionamento algo que normalmente, demora muitos anos. É pegar num conjunto de entidades tão diversas, já alinhadas em termos de estratégias e agora conseguir por toda esta estrutura em funcionamento e em prática no menor espaço de tempo possível”.
Projeto “único no país” garante Telmo Pinto, da CIM
Segundo Telmo Pinto, secretário da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa, este projeto “vai muito ao encontro da ambição do município de Paços de Ferreira e que nós, na CIM, definimos como projeto estratégico, um dos mais estruturantes do território por envolver o mundo académico, da investigação e das empresas, o que faz diferença nos territórios, que permite criar valor acrescentado”.
O centro, que será único em Portugal, “vai fazer a diferença, não só para o território, mas também para o país”, assegurou Telmo Pinto, recordando que este projeto, aprovado em 2021, obteve a unanimidade dos 11 presidentes das autarquias que compõem a CIM. “Será impactante para a região, porque além do mobiliário, há também a lógica da madeira, das novas tecnologias e pode estender-se a outros setores e gerar mais valor, o que implica maior rendimento para as empresas e para os colaboradores”, concluiu Telmo Pinto, explicando que a CIM quer criar uma agência de investimento que lhe permita fazer parte do capital de instituições estruturantes ligadas à investigação e desenvolvimento, como é o caso do Centro Tecnológico.