Casa de S. Francisco
Casa de S. Francisco

O Dia da Restauração da Independência, celebrado a 1 de dezembro, é uma oportunidade para compreender como a história nacional se reflete na identidade local. O território de Freamunde, ainda hoje conhecido por alguns como “terra dos espanhóis”, guarda uma ligação direta aos acontecimentos que marcaram Portugal no século XVII.

Por que “terra dos espanhóis”?

Durante a União Ibérica (1580-1640), Portugal esteve sob domínio da Coroa espanhola. A poderosa Casa dos Meneses, Marqueses de Vila Real, senhores da Honra de Sobrosa, à qual Freamunde pertencia, manteve fortes ligações à monarquia filipina. Quando ocorreu a Restauração da Independência, em 1640, esta família conspirou contra D. João IV, sendo condenada e perdendo os seus bens. Essa associação histórica gerou, na memória popular, o epíteto “espanhóis”, que ainda hoje alguns usam para designar os freamundenses.

Da Casa dos Meneses à Casa do Infantado

Em 1654, os bens confiscados aos Meneses foram integrados na Casa do Infantado, criada para sustentar os filhos secundogénitos da Coroa. Assim, Freamunde passou de território senhorial para administração régia. Vestígios dessa linhagem permanecem, como a Casa de São Francisco, ligada aos Meneses e hoje sede da Casa das Artes, adquirida pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

Capão: tradição com raízes nobres

A famosa Festa do Capão, associada a Santa Luzia, tem origem em práticas gastronómicas da nobreza europeia, incluindo a espanhola. O capão, símbolo de requinte, era servido em banquetes aristocráticos e tornou-se, em Freamunde, um elemento identitário que une história e gastronomia. Esta tradição, longe de ser apenas culinária, é um reflexo da herança cultural que atravessou séculos.

Identidade e cultura

Hoje, essa memória convive com a secular Festa de Santa Luzia e Feira do Capão, reforçando o orgulho local. Compreender estas raízes ajuda-nos a valorizar a história e a perceber como um simples epíteto “espanhóis” traduz uma narrativa complexa de alianças, perdas e permanências.

Ricardo Pereira, 01 dez. 2025

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