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O medo do ridículo funciona como um regulador das nossas atitudes. Esse medo tem uma forte influência na forma como nos apresentamos, uma vez que nos temos em tal conta, que a simples ideia de não corresponder a uma determinada imagem que provoque nos outros admiração, é passível de nos deixar inseguros.

O pior dos nossos pesadelos é o de sermos motivo de riso, vítimas de escárnio. Talvez pior que sermos enganados, sermos ofendidos ou excluídos, temos medo de que se riam de nós, medo de sermos alvo de chacota. O desconforto que podemos sentir quando somos expostos a uma tal vulnerabilidade, que pior que pena, dá vontade de rir, é catastrófica para o nosso amor-próprio.

O ridículo é uma necessária bússola para orientar o nosso comportamento, tendo como barómetros o decoro e a dignidade. Mas também me parece que deve haver espaço para que de quando em vez nos exponhamos ao ridículo, desde que este não seja considerado ofensivo para os outros e apenas expuser o próprio. De facto, até pode ser uma lufada de ar fresco, esta ousadia que nos descompõe e consequentemente desconcerta os outros. Gosto de pessoas que não têm medo do ridículo e até acho que são mais felizes, por não terem demasiadas barreiras a limitar aquilo que se pode ou não pode fazer ou aquilo que se pode ou não pode dizer.

Aprecio as pessoas que cancelam a pose para participar da emoção, que se desmontam da imagem zara se entregarem ao exagero, que não têm medo de julgamentos porque estão conscientes do seu valor. A audácia dos que não se levam a sério só está ao alcance daqueles cuja a autoestima está em níveis superiores.

Para atestar a importância do ridículo e do absurdo, veja-se a alegria vivida no Carnaval, dia em que os julgamentos tiram folga e onde todos nos permitimos exagerar. Não defendo que todos os dias sejam carnaval, mas gostaria que fossemos todos mais leves nas nossas relações, que nos libertássemos mais para expor as nossas fragilidades ou mesmo, dar espaço às travessuras, sem medo do disparate. Deixemos o medo para coisas realmente sérias, para algo efetivamente assustador, como a violência, as doenças, o ódio.

Levamo-nos tão a sério, que nos tornamos reféns de uma vida paralela idealizada para consumo dos outros, que renega o erro, rejeita o acne, as olheiras, as remelas, as varizes, a celulite, as brancas, a calvície e tenta disfarçar tudo isto comprando sonhos propagadas nos écrans. Apagamos cada foto que tiramos que não corresponde ao engano que queremos provocar nos outros e partilhamos fotos maquiadas para fazer surtir nos outos admiração, mas aquilo que nunca permitimos, ai tragédia das tragédias, é que se riam de nós.

Respeito aqueles que se expõem para me fazer rir, que ativamente se despem de preconceitos e não querem ser as últimas bolachas do pacote. São esses que eu admiro, porque ao invés de me quererem seduzir ou enganar, são honestos e estão dispostos a rir comigo. A única chatice é que, sabemos, o riso provoca rugas e eu vou aproveitar para me iludir acreditando que as minhas rugas não são de velhice, mas sim de rir, de rir muito!

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