capão

Uma festa com raízes medievais

A 13 de dezembro celebra-se uma das mais emblemáticas tradições do norte de Portugal: a Festa de Santa Luzia. Em Freamunde, esta celebração une devoção religiosa e gastronomia, guardando uma profundidade histórica que remonta à Idade Média e à influência da nobreza ibérica: a Feira do Capão.

Santa Luzia: luz e esperança no inverno

Santa Luzia, mártir cristã, é símbolo de luz e esperança no tempo mais escuro do ano. A sua festa, próxima do solstício de inverno, anuncia o Natal e, com ele, a abundância que as comunidades sempre desejaram. É neste contexto que surge e perdura o capão.

O capão e a herança dos Meneses

A prática do capão tem raízes medievais e está ligada à nobreza ibérica, que via nesta iguaria um sinal de requinte e poder. Em Freamunde, esta tradição ganhou força sob a influência da Casa dos Meneses, senhores de Vila Real e detentores de vastas terras na região. Originários da Terra de Campos, em Castela-Leão, os Meneses (desde o século XIII) trouxeram consigo costumes que se tornaram parte da identidade local. Entre eles, a criação do capão, que era usado como tributo senhorial e como prato de honra nos banquetes natalícios.

Um prato que vive mais no imaginário do que na mesa

Contudo, há uma curiosidade que importa sublinhar: o capão nunca se tornou um prato popular.

O seu preço, tal como na Idade Média, continua a exigir uma carteira abastada, e na noite de Santa Luzia o povo das Terras de Freamunde não se junta na “Tenda de Santa Luzia” para comer capão, mas sim para saborear rojões na “Tenda das Sebastianas”.

No Agrupamento de Escolas D. António Taipa, que usa o capão como símbolo identitário, não há memória deste “galo” constar na ementa escolar, nem sequer no dia de Santa Luzia. Ou seja, o capão vive mais no imaginário coletivo do que nos pratos do quotidiano da comunidade.

O melhor caminho: trazer o capão para a mesa

Como se percebe, a identidade cultural não nasce por acaso: ela é fruto da história, da fé, dos costumes e símbolos que atravessam gerações.

Em Freamunde, a festa de Santa Luzia e a Feira dos Capões mostram como a herança senhorial dos Meneses, a devoção religiosa e a gastronomia se fundiram para criar um rico património, que urge alimentar e não deixar morrer.

O desafio

Não basta exibir o capão como símbolo e orgulho de uma comunidade, é preciso trazê-lo para a mesa e o melhor caminho para tornar o capão uma realidade no prato das gentes das Terras de Freamunde é começar pelas escolas.

Seria um gesto de coerência cultural criar as condições para que, no dia 13 de dezembro, o Agrupamento de Escolas D. António Taipa possa celebrar Santa Luzia e, honrando o seu emblema, consiga oferecer capão aos seus alunos. Só assim esta tradição deixará de viver apenas no imaginário e passará a ser saboreada como prato festivo, honrando a história e as gentes que lhe deram origem.

Freamunde, 12 de dezembro, 2025.

Ricardo Pereira

 

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