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Filipa Silva tem 34 anos e é enfermeira há dez anos. Trabalha há dois anos no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, numa unidade de Medicina, que lida diretamente com casos positivos de COVID-19. Desde 13 de março que está privada do contacto com a filha de quatro ano e com o marido.
Pedro Barbosa, (foto) tem 26 anos e é natural de Penafiel. Enfermeiro de profissão, encontra-se atualmente a trabalhar num hospital na cidade espanhola de Santander e viu a sua vida mudar devido à pandemia.
Conheça a história destes dois profissionais de saúde que diariamente estão na linha da frente no combate à Covid-19.

“O que mais custa é não poder abraçar a minha filha”

Filipa Silva tem 34 anos e é enfermeira há dez anos. Trabalha há dois anos no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, numa unidade de Medicina, que lida diretamente com casos positivos de COVID-19. Desde 13 de março que está privada do contacto com a filha de quatro ano e com o marido.
“É muito difícil viver este momento”, contou ao Jornal IMEDIATO. Desde o início desta pandemia, Filipa Silva entregou a filha a um cuidador, depois do encerramento do infantário, para a proteger de um possível contágio. Em casa, vive ela e o marido, em quartos separados, a usar casas de banho separadas e a mal se verem. Ele, militar da GNR, trabalha nove dias seguidos sem vir a casa; ela, trabalha 12 horas por dia e só vem dormir. “E quando acontece de estarmos os dois em casa, temos todos os cuidados”, explicou.
Importante, agora, para Filipa Silva é ajudar os doentes e a combater a pandemia. Mas confessa, sente muito a falta da família e da filha principalmente. “Custa muito não poder dar um abraço e um beijo à minha filha”.
Custa-lhe também ver a entrega dos profissionais, sem saber como vai terminar. “Vemos a entrega das pessoas, mas também lhe vemos medo”, frisou.
Por enquanto, a vida de Filipa Silva vai continuar como até aqui, na esperança de que o Governo tome alguma decisão que lhes permita ter a filha mais próxima e retomar a família que deixou para trás há três semanas. “Tenho fé e acredito que vai melhorar, se cada um fizer a sua parte”, rematou.

“É bom ser-se reconhecido, mas aplausos não nos salvam a vida”

No final de janeiro, Pedro Barbosa estava em Bruxelas a receber um prémio internacional, mas, apenas três meses depois encontra-se numa situação completamente distinta, devido à pandemia que tormenta o mundo. Enfermeiro num hospital psiquiátrico, falou ao IMEDIATO de como se estão a viver estes tempos de crise.
“O hospital sofreu algumas restruturações para dar resposta à pandemia. Trabalhamos em turnos espelho, em equipas fixas de forma a reduzir potenciais contágios. Os doentes não podem receber qualquer tipo de visita nem sair para ir a casa no fim-de-semana. Foi criada uma área de casos de positivos de coronavírus e outra em que recebemos doentes provenientes de outros hospitais”, contou.
Segundo Pedro Barbosa, o próprio “dia a dia de trabalho” mudou e mesmo o tempo de descanso, onde se costumava encontrar com os colegas e passar um pouco de tempo enquanto comia, já não existe.
“O contacto físico é bastante restrito mesmo com os pacientes, chegamos próximo deles em caso de extrema necessidade porque atualmente o principal vetor somos nós, profissionais de saúde”, relatou o enfermeiro.
De acordo com o jovem, no hospital já apareceram três casos positivos e um deles estava a ser cuidado diretamente por si, de forma a que teve de ficar em isolamento domiciliário. Testou negativo e regressou ao trabalho prontamente.
Contudo, há duas semanas, uma paciente que veio de outro estabelecimento começou a ter picos febris e, quando testada, deu positivo, resultado que forçou toda a equipa que esteve em contacto consigo a fazer isolamento.

Falta de recursos em tempo de pandemia mundial

Para o enfermeiro de Penafiel, esta situação é fonte de “grande pesar e tristeza” para os profissionais de saúde, que lidam com a morte diariamente ainda que estejam a fazer tudo ao seu alcance para salvar vidas.
Contudo, deixa um alerta: “Não basta o conhecimento, técnicas e sabedoria dos profissionais de saúde, é necessário que os nossos governantes, os gestores do dinheiro público, priorizem e façam chegar recursos à população e aos profissionais”.
Para o jovem, os profissionais de saúde não estão devidamente protegidos para lidar com esta pandemia e correm muitos riscos, sendo que os governos deveriam ter arrecadado o material suficiente para combater o surto quando este estava a crescer na China e em Itália.

“Mesmo que não fosse possível a importação, o país [Espanha], tal como agora, deveria ter iniciado o próprio fabrico de material sanitário porque quando começou a surgir verdadeiramente o caos e aperceber-se que quem estava na linha da frente estava desprotegido começaram a montar o material”, critica o jovem.
Segundo Pedro Barbosa, cerca de 12.000 profissionais de saúde espanhóis estão infetados, número que representa cerca de 12,5% do total de casos positivos no país.
O jovem admite que tem medo de contrair o vírus, porque este é imprevisível e “comporta-se de forma diferente nas pessoas”.

Em tempo de isolamento social, sente-se falta das pequenas coisas

Ainda que não pensasse que iria sentir tanta diferença com o isolamento social porque iria continuar a trabalhar, Pedro Barbosa confessou que o confinamento o fez perceber que há coisas na vida “que são tão simples” e não são valorizadas.
“O facto de poder abraçar, passear, ir ver o mar… e que de repente ficamos sem elas. Quando saio do trabalho dirijo-me imediatamente para casa e a primeira coisa que faço é tomar um duche e ligo para a minha família em Portugal”, contou ao IMEDIATO.
Algo que também mudou com esta pandemia foi o reconhecimento pelos profissionais de saúde, expresso inúmeras vezes nas redes sociais ao longo das últimas semanas. Contudo, para o enfermeiro de 26 anos, “é bom ser-se reconhecido, no entanto aplausos não salvam a vida, não tiram os riscos profissionais nem pagam as contas” aos profissionais de saúde.
“Não nego que me emocionei quando vi os primeiros aplausos, mas são necessárias medidas concretas durante e após a pandemia. Os profissionais de saúde estão expostos a grande risco biológico e não trabalham em condições para lidar com o risco e muito menos recebem para isso”, alertou.
Ainda assim, Pedro Barbosa considera que mesmo esta “onda de agradecimentos” nada vai mudar, porque mesmo em plena pandemia tudo continua igual.
“Quando esta crise passar, os nossos governantes darão umas palmadinhas de costas, dizem obrigado e já está! Lamento, gostaria que mudasse e voltaria a Portugal sem qualquer dúvida”, conclui o enfermeiro.

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