Drama de todos e negócio de alguns, os incêndios são incontornáveis.
Na minha opinião, balizada pelo senso comum, as questões fulcrais subjacentes à tese do negócio são a da provisão de meios aéreos e a do ordenamento da floresta.
É comummente sabida a falta de meios aéreos próprios de combate a incêndios. Alugamos aviões Canadair, antigos e problemáticos, que, obviamente, estão sempre avariados. Entretanto, pagamos por eles!
Portanto, alugamos meios obsoletos, sabendo de antemão que quem os aluga, não tem, nem quer ter, meios modernos e fiáveis! É um “negócio da China”, digo eu. Os números oficiais confirmam-no. Em 2023 e 2024 gastámos cerca de 150 milhões de Euros nestes alugueres.
A ministra acha que a quantidade de meios aéreos utilizados no terreno é irrelevante, argumentando com a orografia dos locais incendiados. Para mim, que bebi água ao almoço, isso não faz sentido nenhum. A orografia até pode ser um obstáculo para os carros de bombeiros, mas nunca para os meios aéreos. É para isso que eles existem, para despejar água nas fogueiras!
Já tivemos um arremedo de frota própria, os helicópteros pesados Kamov Ka-32. Tivemo-los, mas eram russos e como estamos de mal com os russos e somos bem-mandados – fazemos tudo o que a “união europeia” manda, demo-los aos ucranianos. A estas horas apagam os “fogos” de algum cartel de droga sul-americano!
E assim chegamos ao eucalipto, o problema que os interesses instalados teimam em negar, remetendo os seus malefícios para o conceito da monocultura e escondendo a sua omnipresença. Está em todo o lado.
Omite-se que é altamente inflamável e que emite projecções incandescentes até centenas de metros de distância, tornando os incêndios incontroláveis. Omite-se que liberta compostos inibidores dos microrganismos no solo e que impede o crescimento de outras espécies. Alguém sabe, alguém viu, onde, por exemplo, param o zimbro e a carqueja, outrora tão vulgares?
Acabados os incêndios, ninguém mais se lembrará disto e serão plantados cada vez mais eucaliptos com o beneplácito de quem a tal devia obstar.
É consabida a necessidade de reflorestarmos o território com nativas folhosas que persigam a sustentabilidade ambiental e garantam o retorno económico das propriedades.
Tal implicaria o envolvimento e esclarecimento dos proprietários, o apoio efectivo do Estado e das autarquias e a criação de um quadro legislativo claro e inequívoco que promovesse e sedimentasse a acção.
Para os casos de renitência o Estado poderia, considerando que a propriedade e a posse são conceitos jurídicos diferentes, actuando dentro do quadro legislativo a criar, tomar a posse administrativa dos terrenos, promovendo ele mesmo a necessária reflorestação.
Custaria muito dinheiro? Claro que sim! Mas um país que acha poder gastar 5% do PIB para combater um inimigo fictício, a Rússia, tem de ter dinheiro e vontade para combater este verdadeiro inimigo, real e mortífero!I