Olho a televisão e ouço as palavras quase vazias do Ocidente sobre a fome em Gaza… De um lado, estão as crianças palestinianas, tantas, de olhar vazio, muito triste, a pedir comida… Do outro lado, longe, está Donald Trump, Ursula von der Leyen, Emmanuel Macron. Não percebo, exactamente, o que dizem, o que sentem, mostram-se, todos, com ar grave e zangado e fazem comentários que me parecem também de revolta ou, quem sabe, talvez não…
Ouvi dizer que Trump pediu a Israel que permitisse a entrada de comida, em Gaza, onde há uma fome intensa, verdadeira, que mata… Por outro lado, Netanyahu, primeiro-ministro israelita, diz que isso não é verdade… Mas aquelas crianças estão mesmo com fome… Um rapazinho, muito triste, chorava porque lhe roubaram o saco de farinha que fora buscar a grande distância… Outro dizia querer morrer e ir para o céu porque lá havia comida… De férias, uns, outros, tantos, sem nada para comer, doentes, continuam à espera… E esperam o quê?
Em Julho passado, o Presidente Macron anunciou que a França vai reconhecer o Estado da Palestina. Em Julho passado, quando viu as fotografias de crianças palestinianas em pele e osso, a morrer à fome no colo das mães, a Presidente da Comissão Europeia que também as vê todos os dias, reconheceu que essas imagens são mesmo insuportáveis e acordou que “Isto tem de acabar”. E como? O que fazem os países que deixam ver estas imagens horríveis e que permitem que isto esteja a acontecer? O que fazemos nós? Diz a diplomacia portuguesa que temos como tradição um apoio forte e consistente à causa palestiniana… Muitas vezes, Portugal terá condenado Israel mas, para já, ainda não reconheceu o Estado da Palestina… É certo que começa a dizer que o vai fazer mas, até Setembro, data que anuncia para esse fim, a morte, a fome, as doenças, as panelas vazias, continuam a massacrar os nossos olhos,os nossos sentidos… Todos os dias…
Parece certo que a maioria dos países do mundo reconhecem a Palestina como Estado mas o Ocidente só está agora a querer dar esse passo. E a fome continua, a morte está à vista, o sofrimento é demasiado violento para que possamos ver as imagens que nos mostram. Todos os dias!
Pouco me interessa que Trump anuncie querer fazer qualquer coisa. Pouco conta que Zelensky fale com Costa ou até com Putin… A História está cheia de visitas e de conversas que não dão em nada… Foi assim antes, está a ser assim agora! Seria muito mais importante que o mundo inteiro fizesse o impossível para o reconhecimento da Palestina, para o encontro real com a paz! Bem sei que isso tudo é pouco, isso tudo é quase nada para que o mundo com tanta guerra possa chegar realmente à paz…
Interrompi a escrita! Volto a olhar o livro que ainda tenho em mãos, “Da Liberdade” de Timothy Snyder e, sem voltar a folhear as muitas páginas que sublinhei, escolho um dos comentários registados na contracapa. E, sobre o que é a liberdade, releio e transcrevo assim:
“Um livro grandioso e ousado. Nesta magnífica meditação sobre a natureza e o significado da humanidade, T. S. rejeita a ideia de que a liberdade é meramente a ausência de restrições, considerando, em vez disso, que é a condição necessária para as pessoas escolherem um futuro melhor.”
Parece-me que continua certo o que escrevi antes. Mesmo que haja um consenso rápido para a paz na Palestina, isso, para já, não chega. Gaza vai ter mesmo de esperar: sem a desejada paz! Sem a indispensável liberdade!