Saudade/Contra o medo… esperança!

Quando estou mesmo “muito ocupada” na leitura de um livro, quase esqueço as tarefas habituais, as coisas que se fazem normalmente… A chuva persistente não convida mesmo a sair para simples tarefa de respirar ar puro. Não se caminha, não se procuram as tarefas habituais que se cumprem no exterior… Mas, salvam-me os livros, os que já li e que releio através das imensas notas que registei nas margens do que foi escrito pelo autor e os outros, tantos, que surgem, novos, à espera de serem descobertos e lidos.

Há muitos anos, muitos mesmo, encontrei casualmente um escritor novato na Feira do Livro de Braga, que falava para um número pequeno de ouvintes e eu, pouco lhe liguei… Não era bem conhecido ainda, iniciava a sua tarefa de publicação e ouvi-o durante pouco tempo. Fiquei atenta! Depois, continuando a sua actividade de escrita, começou a ter sucesso… E o seu nome impôs-se, eu fui lendo, fui descobrindo e já tive a sorte de o questionar pessoalmente sobre algumas das matérias que foram objecto de desenvolvimento de títulos que então foram publicados. Continuei curiosa e confirmo que esse sentimento é sempre positivo para um qualquer leitor!

Saiu muito recentemente o mais novo livro de José Luís Peixoto, A Montanha, e ele é, num esquema pouco habitual, o próprio narrador. Criado a partir de seis histórias reais, é um romance que tenta humanizar o cancro, aprofundando temas vários e próximos, que sempre estiveram presentes na obra do escritor. Tudo foi escrito a partir do que era contado ao autor pelos doentes e é fácil notar neste livro um confronto real com a palavra. Sem tabus, sem eufemismos…

Nos corredores e salas do I.P.O. do Porto, espaço principal da acção deste livro, o narrador confronta-se com temas já tratados antes na sua obra mas, sobretudo, destaca a possibilidade de aprofundar as imensas perplexidades que a doença em causa, provoca. As personagens reais que conversam com o narrador, são a matéria fundamental desta narrativa e ajudam a provar que a Literatura pode beneficiar ou só faz sentido se partir da vontade e da convicção… Está tudo neste romance, ou neste testemunho verdadeiro que choca, que dói, que impõe a interrupção da leitura para pensar, para saber ou aprender a viver a vida com mais sentido… Aqui, como diz o narrador, “A vida está fora do livro e dentro do livro”. É assim, devia ser assim!

Agora, parece-me ser melhor não continuar este testemunho… Muito difícil ler, muito difícil escrever… Como diz J.L.P. “Todos queremos que a nossa vida tenha valido a pena, que tenha tocado os outros”, logo, vamos fazer por isso… Enquanto temos tempo!

Então, salto deste romance, duro e difícil, para a Esperança, palavra que também aparece no livro e que temos de agarrar como conceito central que devemos preservar… Todos sabemos que os elementos que constituem a matéria dos livros podem existir mesmo, porque também existem fora dos livros, a vida é mesmo assim. Agora, neste momento, poderia nascer a matéria para uma conversa, para um debate de ideias com gente que gosta de discutir, de descobrir, de fazer… O ideal será sempre fazer com que as pessoas se entendam e possam saber viver. Afinal, lendo J.L.P. ou outro qualquer escritor, o mistério da vida, com ou sem doença, há-de manter-se e, neste caso concreto, afinal, o narrador teve como principal objectivo, misturar escrita e vida. Afinal, um bom tema, para quem gosta de viver, para quem gosta de escrever, de falar de Literatura…

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