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Há 50 anos, o país preparava-se para viver um dos mais importantes momentos da sua história: a Revolução de Abril, que ficou também conhecida como a “Revolução dos Cravos”, pela forma pacífica como decorreu e pelos cravos vermelhos que a população distribuía aos soldados dissidentes, e que estes enfiavam nos canos de suas armas.

O momento foi vivido de forma entusiasta em Lisboa e no Porto, mas na região do Vale do Sousa, a revolução passou quase que despercebida, por uns por falta de informação sobre o que se passava na capital, por outros por medo ou desconfiança sobre o que o futuro reservava e sobre o sucesso da ação militar.

Nesse dia 25 de abril de 1974, o país pôs fim a um regime autoritário-ditatorial de inspiração fascista — o Estado Novo”, regime este liderado por António de Oliveira Salazar. O Movimento das Forças Armadas (MFA), composto na sua maior parte por capitães que tinham participado na Guerra Colonial e sob o comando operacional do Coronel de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho, deu início a uma revolta que depôs o regime e deu início a um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático e com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista.

Este golpe de estado, em menos de 24 horas, derrubou a ditadura que dominava Portugal há mais quatro décadas, e mudou o rumo da história nacional decisivamente.

O Jornal IMEDIATO, dá-lhe a conhecer histórias de pessoas que viveram o 25 de abril na região, a sua opinião sobre as mudanças que se operaram nestes 50 anos e como olham para o desenvolvimento das regiões neste período.

“Gerou-se um mito de que toda A Revolução na imprensa local a gente queria o 25 de abril”

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Aloísio Lobo tem 85 anos e acompanhou as movimentações da Revolução em Paços de Ferreira. No dia 25 de abril, já era professor, mas estava a tirar um curso de filosofia e só quando chegou à Universidade de Letras do Porto é que percebeu o que tinha acontecido, porque em Paços de Ferreira estava tudo calmo. Sem ligações políticas antes do 25 de abril, altura em que colaborou com o Partido Comunista, embora não partilhasse dos ideais deste, teve uma atividade local com a paróquia, “que era política, no conceito que eu tenho de política”, na qual faziam várias atividades, tinham ligações com os jovens, que tinha como objetivo exigir a liberdade de pensamento, denunciar as injustiças e ser contra a guerra colonial. Afasta a ideia de que o 25 de abril era um acontecimento que toda a gente ansiava. “Gerou-se um mito de que toda a gente queria o 25 de abril, mas isso é falso. A maioria das pessoas não queria e não quer ainda. O 25 de abril foi uma revolução de uma minoria militar e foi democracia só depois. Os democratas antes do 25 de abril eram uma minoria, porque os outros tinham medo e não tinham educação política”, afirmou, reconhecendo, contudo, que foi “uma coisa boa”. No dia em que rebentou a revolução, recorda que, “os colegas estavam temerosos e só quando viram que a eleição triunfou é que se tornaram revolucionários” e que os dias seguintes foram “dias de incerteza”. Segundo Aloísio Lobo, “nessa altura muita gente tomou consciência de que tinha uma palavra a dizer”, mas houve muito quem aproveitasse a oportunidade para conquistar poder. Três dias depois da revolução, diz que sentiu “um olhar espesso” quando foi ao café. “Aqui a maioria das pessoas não viveu essa alegria, viveu a revolução com muita desconfiança, muito pé atrás e em alguns casos e até com alguma insinuação de que as coisas iam voltar para trás”, recordou. Aloísio Lobo fez parte da Comissão Administrativa, presidida por Ramiro do Rosário e foi candidato à Câmara Municipal nas primeiras eleições autárquicas, como independente, apoiado pelo Partido Socialista. Perdeu a Câmara para o social-democrata Fernando Vasconcelos, mas foi eleito vereador da Educação. Na Comissão diz que fizeram “coisas importantes”, no campo da Educação, na forma como a Câmara se relacionava com as escolas e começaram a construção do Bairro do Outeiro. Para o professor, a escola pública e o serviço nacional de saúde foram as coisas mais importantes que Abril trouxe aos portugueses. “Mas o que de melhor o 25 de abril me trouxe foi a liberdade de expressão e pensamento, que possa dizer o que penso, mesmo que seja para criticar a democracia, porque só se pode criticar uma democracia, numa democracia”, concluiu.

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