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Quando estou às voltas com a Literatura e isso é frequente, volto a Saramago que tem, quase, quase sempre, a resposta para as minhas dúvidas ou a falta de motivação. Ajuda-me em qualquer ocasião, responde-me ao que procuro como arranque à questão ou tema que quero desenvolver.

Dizia Saramago: ” o tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.”

Era mesmo isto o que eu queria ler/ouvir, porque esta é a mensagem que   também eu defendo.

O Natal já passou e estou aliviada por isso! Tanta mentira, tanta hipocrisia, tanta mensagem de paz sem sentido,  que não existe! Tantas, tantas luzes que se acendem e que são, na minha opinião, um quase disfarce para a escuridão que vivemos, para o turbilhão de ataques e de sofrimento que vai por aí. O mundo em ebulição, os ataques pessoais, a fome, a miséria humana,  os pedidos insistentes de uns para que a guerra acabe, a surdez de outros, tantos, sempre prontos para que a paz possível nunca volte… Não vemos isso? Não vimos ainda as imagens horríveis das crianças que choram com fome e que nunca, nunca, provocaram a guerra? O Natal foi, é um disfarce! Uma forma hipócrita de fingir o amor, a amizade, a união. Do que sei, do que aprendi com a vida, com os livros, a mensagem autêntica do Natal, não é nada, quase nada do que se vive hoje com o Natal. Perdoem-me os mais crentes! A imagem que guardo, o que aprendi do presépio em Belém, é a de uma família sem riqueza, a de um Jesus que nasceu, cresceu e viveu a ensinar o bem, a paz, a união… Nada, quase nada disso se inventa para viver hoje, o Natal… Como é possível fingir que estamos todos em paz e união? Nada disso é verdade, apaguem-se essas luzes todas, essas imagens falsas de casas cheias, de compras loucas por impulso, de abraços e beijos falsos que fingem a verdade e a união…

Depois, por acréscimo, sugere-me o Primeiro-Ministro que aprenda a viver com o modelo de Ronaldo… Todos ouviram isso? Uma quase palermice, um insulto aos portugueses, para tantos, como eu, que viram nessas palavras um modelo barato para motivar, ou para o estudo da Psicologia humana, aqui personificada num jogador de futebol. Que não pode servir…

Paralelamente, os candidatos presidenciais, já começaram os ataques pessoais, como se previa. Adeus simpatia, consideração, amizade pessoal até! Se me permitissem o conselho, dispensava-os de ler ou reler o Padre António Vieira mas iria recomendar-lhes a leitura repetida de Eça, que, no seu tempo, já considerava o país “uma choldra” e por isso partiu!

Isto, pode parecer qualquer coisa, talvez desilusão! Não importa, leio assim o país que somos, que vivemos, hoje. Talvez me sentisse melhor sem a pobreza, hoje. Talvez estivesse melhor com os portugueses, todos, a ganharem mais, com mais opções na vida, com uma vida mais justa. Porque, o que estamos a viver, não cumpre o grande, o maior objectivo da democracia: a paz social, a igualdade e a união sincera para todos!

Voltando a Saramago, é ainda forçoso recordar outras das sua palavras: “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, talvez seja simplesmente: a Humanidade.”

É assim que volto ao silêncio e volto ainda ao Natal. Ao que hoje se faz do Natal… O disfarce dos abraços e das mensagens de paz. O amor que não existe ou, em seu lugar, a desigualdade, a exclusão, a hipocrisia… Quase tudo o que não é o Natal. Hoje.

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