Jose Ribeiro

José Ribeiro foi recentemente eleito Presidente do Conselho de Enfermagem da Secção Regional Norte e por inerência Vogal do Conselho de enfermagem Nacional da Ordem dosEnfermeiros e o seu trabalho realizado como Enfermeiro Diretor no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa valeu-lhe ainda um reconhecimento por parte da Ordem dos Enfermeiros. Em entrevista ao Jornal IMEDIATO falou das suas funções e sobre o que pode fazer pela profi ssão, assim como para melhorar as condições de trabalho dos enfermeiros.

Que trabalho vai poder desempenhar nesta nova função no Conselho de Enfermagem?

Será uma oportunidade de levar a minha experiência pessoal, o conhecimento da profissão enfermagem e de um trabalho desenvolvido no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS), em áreas como a qualidade, formação, inovação e investigação, bem como promover o desenvolvimento e a valorização cientifica e competências. O CHTS e a área de enfermagem em concreto foi a que mais desenvolveu estas áreas a nível nacional, tornando-se um exemplo em todas estas áreas.

O Estatuto da Ordem e o Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE) é bem claro no que diz respeito às competências do Conselho de Enfermagem Nacional e Regional. Claramente que compete ao conselho de enfermagem regional emitir orientações sobre as questões que os enfermeiros colocam no dia a dia, promover o desenvolvimento e a valorização cientifica, técnica, cultural e profissional dos enfermeiros, zelar pela observância dos padrões da qualidade dos cuidados de enfermagem e pela qualidade do exercício profissional dos enfermeiros, acompanhando esse mesmo exercício profissional, o desenvolvimento da formação e investigação e o processo de certificação individual de competências, bem como estimular a implementação de sistemas de melhoria continua da qualidade do exercício profissional dos enfermeiros. Quero efetivamente contribuir para o desenvolvimento da enfermagem e para a melhoria da qualidade e segurança dos cuidados, na defesa dos interesses gerais dos utentes / pessoas destinatários dos serviços de enfermagem.

– Olhando para as dificuldades que a classe atravessa, o que pode a Ordem e o José Ribeiro em concreto fazer no desempenho desta função, para melhorar a situação atual?

A Ordem dos enfermeiros tem diversos órgãos nacionais e regionais, para trabalhar para o seu desígnio fundamental a defesa dos interesses das pessoas e dos interesses da profissão. A regulação e as condições do exercício são uma das grandes preocupações, dando-se uma grande importância com visitas de acompanhamento ao exercício profissional e verificação dos requisitos obrigatórios para um exercício com qualidade e segurança. Estão bem identificadas as características do ambiente de trabalho e dos ambientes das práticas de enfermagem que facilitam ou impedem a prática de enfermagem. Zelar e acompanhar para que estas variáveis sejam de acordo com o que está preconizado, de acordo com a lei, as recomendações, orientações e pareceres, estão no foco da ação da Ordem dos Enfermeiros. Nas visitas de acompanhamento do exercício profissional e nas auditorias para a certificação no âmbito da Idoneidade Formativa é bem visível esta preocupação. Os contratos, são do âmbito sindical, mas não deixa de ser uma preocupação sempre presente nos enfermeiros, mas fortemente dependente do Governo.

Entende que se tem desvalorizado o papel dos enfermeiros em Portugal?

Claramente que os enfermeiros não estão a ser reconhecidos e valorizados em Portugal, com elevado prejuízo para os doentes e Estado. Temos que ultrapassar esta constante de ignorar a importância de enfermagem, com regras e limitação nos recursos diferentes de alguns grupos profissionais, com pouco reconhecimento das competências dos enfermeiros para acrescentar valor no SNS, insistir num modelo e discussão biomédica na organização e prestação dos cuidados, bem como, por essa razão, demasiado baseado na intervenção curativa e de prescrição medicamentosa, desvalorizando o valor económico do cuidado. Ainda nem todos compreenderam, e demonstram que não querem compreender, como é que as pessoas, nos seus processos de vida e na forma como vivem as suas transições, são afetadas pelos cuidados de saúde, nomeadamente pelas Intervenções de Enfermagem. Os cuidados de enfermagem pagam-se a si próprios só pela prevenção de resultados adversos e são os enfermeiros que melhor podem promover o acesso em tempo útil e os cuidados centrados em cada pessoa.

Em momentos de dificuldade económica e com as despesas da saúde a aumentar, com os enfermeiros mais qualificados e competentes de sempre e com o perfil atual dos doentes e suas necessidades, a valorização do papel dos enfermeiros seriam a solução, como indicam os documentos de estudos e de instituições nacionais e internacionais. Não se compreende determinados posicionamentos políticos e de politicas, insistindo a não querer e não perceber a forma como os enfermeiros produzem valor, ou não valorizando o valor produzido pelos enfermeiros, colocando um enfermeiro como um custo e não como uma receita ou investimento (associado à forma como as instituições são financiadas). Não reconhecer o valor económico de enfermagem, leva à sua desvalorização no enquadramento do SNS, nos contratos de trabalho, remunerações e incentivos.

Quais são os desafios que se apresentam ao setor da saúde?

Corrigir o que acabei de referir, com envolvimento e ação dos enfermeiros, tendo o desafio com melhor acesso, mais cuidados diferenciados e centrados na pessoa saudável e doente e com indicadores que permitam medir e aferir os resultados obtidos. Olhar a forma como prestamos cuidados de forma diferente (Melhorar resultados clínicos, Satisfação dos doentes, menores custos), escolher outras prioridades com a reorganização da cadeia de valor (colocar o doente no centro do sistema / proximidade, reorganização da cadeia de prestação de cuidados, entrega dos melhores resultados ao menor custo) e ter critérios de eficácia, eficiência e equidade (que aproveite da melhor forma os recursos, com cuidados de saúde individualizados e prestados em função das necessidades e daí se obtenha melhores resultados ao menor custo).

Foi recentemente distinguido pela Ordem dos Enfermeiros com o Prémio Mérito. Como recebeu este reconhecimento?

Com referi na altura, com um sentimento de dever cumprido, resultado de um trabalho coletivo e de qualidade, e como um estímulo para manter o meu perfil pessoal e profissional. Quando uma associação profissional, reguladora do exercício profissional, nos reconhece só pode significar um bom trabalho na gestão e elevado contributo para a qualidade na prestação de cuidados de enfermagem de excelência e para a formação e aperfeiçoamento profissional. Foi mais um estimulo para continuar a trabalhar para uma boa governança clinica e na evolução cientifica de enfermagem. Quero continuar a trabalhar, diretamente ou indiretamente, para criar ainda mais valor para as instituições de saúde, os utentes e enfermagem.

Foi o reconhecimento de um trabalho desenvolvido durante um período crítico na saúde em Portugal, durante o qual o Mundo enfrentou uma pandemia. 

Numa crise tudo que é pode deixar de ser de um momento para o outro… exigindo recursos competentes e capazes de aprender a aprender, aprender efetivamente e se adaptar a uma nova realidade. Hoje, sabemos que é verdadeiro e rápido. E que muita mudança e inovação vem de restrições, necessidades, pesadelos organizativos e logísticos. Esta também é a oportunidade de homenagear, à semelhança do louvor que foi atribuído pela Ordem dos enfermeiros, os enfermeiros meus adjuntos, os enfermeiros gestores dos serviços e os enfermeiros que estiveram na prestação de cuidados. Foram momentos muito difíceis e que provocaram choro e insegurança pela incerteza que se vivia, mas daí resultou o sentimento de dever cumprido e muitas lições.

O que distingue deste trabalho realizado e agora reconhecido?

A capacidade de liderança transformacional e pelo exemplo, com muita afetividade e respeito, e a existência de planeamento estratégico de enfermagem como a preocupação de trabalhar intensamente no aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional, na melhoria de todos os processos e na qualidade e segurança cos cuidados que prestamos às pessoas. O reforço do numero de enfermeiros (aumento de mais de 300) e enfermeiros especialistas (aumento de mais de 145), a avaliação de desempenho que permitiu mudanças dos índices remuneratórios, a promoção de mais de 160 projetos de inovação (cerca de duas dezenas premiados a nível nacional) e de próximo de uma centena de projetos de investigação (onde se inclui a conclusão de um doutoramento e doze em curso, centenas de mestrados já concluídos e vários prémios obtidos), a Idoneidade formativa quase na totalidade dos serviços (que será importante para o internato de enfermagem), mais de uma centena de eventos formativos e uma melhoria significativa na qualidade e segurança dos cuidados, com mais proximidade e consolidação de um modelo que saliente o enfermeiro perito, referência e gestor de caso. Muito outros exemplo poderia dar. Da minha parte, há sempre muito reconhecimento e gratidão para todos, sem dúvida que construímos um sonho e estamos a executá-lo. Estou certo que todos reconhecemos o presente e que há três leis no universo que nunca falham: a do retorno, a da verdade e a do mérito.

 

 

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