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Fui surpreendida (ou talvez não!) pela morte do Prof. Vítor Aguiar e Silva, distinto professor em Coimbra, meu professor, prémio Camões em 2020, um nome central dos Estudos Camonianos.

Foi, sem dúvida, um dos meus melhores professores, na Faculdade de Letras de Coimbra e, depois, na Universidade do Minho até à sua aposentação em 2002.

A sua obra marcou decisivamente os campos dos estudos literários e da Teoria da Literatura, sobretudo. Foi autor de imensos estudos literários e deve-se-lhe a coordenação de um fundamental Dicionário de Luís de Camões, publicado em 2011, onde conseguiu reunir os mais importantes investigadores portugueses e estrangeiros da obra camoniana.

A sua docência deixou uma marca profunda em diversas gerações de estudantes. Aguiar e Silva foi um desses professores que deixaram discípulos, quer na Faculdade de Letras de Coimbra, quer depois, na Universidade do Minho. Também me marcou, sem dúvida e nunca o poderei esquecer. Primeiro, como Professor de Teoria da Literatura que fiz sem problemas. Depois, como Professor de Literatura Portuguesa onde me vi aflita… Fabuloso o modo como nos falava de Eça e de outros seus contemporâneos. Surpreendente como questionava ou opinava sobre o Realismo e, muito mais, repito, sobre Eça de Queiroz…

No âmbito da teoria literária, a sua obra reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa.

Vítor Aguiar e Silva, professor nas Universidades de Coimbra e do Minho, esteve na génese do Instituto Camões,liderou a Comissão Nacional de língua portuguesa e foi opositor do novo acordo ortográfico. Como eu!

Aguiar e Silva foi Prémio Camões mas também gerou grande polémica, sobretudo nas redes sociais, com um catedrático reformado da Universidade de Coimbra, meu colega de curso e que fez referência ao “perfil humanista” de alguém que, acusava, terá denunciado às autoridades, alguns dirigentes estudantis durante a Crise Académica de 69. Quando Aguiar e Silva, então apoiante convicto do regime, era assistente do Professor Costa Pimpão, também meu professor.

O Prof. Aguiar e Silva licenciou-se em Coimbra. Doutorou-se. Foi Professor Catedrático. Leu, ensinou, escreveu, investigou… Fez tudo isso e muito mais!

E, por tudo isso, fica aqui o meu reconhecimento sincero. É surpreendente poder constatar que foi um professor excelente e, uma dezena de anos, apenas, mais velho do que eu! Surpreendente poder constatar que reconfigurou os estudos literários na Universidade portuguesa. Mas, também, como já disse, terá denunciado às autoridades alguns dirigentes estudantis durante a crise académica de 1969, porque era apoiante convicto do regime. Ele, então, assistente do Prof. Costa Pimpão, eu, nesse tempo, aluna do 4º ano.

Continuarei a admirar Aguiar e Silva que me ensinou a descobrir, a estudar Eça, entre outros nomes maiores da nossa Literatura mas, nunca lhe perdoarei o papel negativo que teve no desenrolar de uma crise académica que me marcou para sempre… E que precipitou o 25 de Abril!

Não sou, nunca quererei ser santa, mas não vou perdoar a quem também me fez mal… Mesmo que este caso concreto nada diga aos que vieram depois de mim!…

 

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1 comment

  1. É um texto esclarecedor sobre uma dada situação especial, não abrangente à grande maioria da comunidade pacense. Fala de um bom Prof. Universitário do qual foi aluna, em Coimbra, fala de uma situação académica contra o regime da qual também fiz parte e fala do mau caracter do Professor, que fiel ao regime salazarista, se transformou num informador pidesco de alunos ligados à Direcção do Movimento Estudantil que eram presos e enviados compulsivamente para a tropa. Claro, a sua intelectualidade elevada, em termos literários, não foi suficiente e não lhe abriu a tolerância, em termos políticos, como aconteceu a tantos outros Professores Catedráticos que nós conhecemos. Este texto se for entendido por meia dúzia de pessoas já valeu a pena.

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