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Ainda existem vacas-louras em Paços de Ferreira. E eles andaram à sua procura

A vaca-loura é o maior escaravelho que se pode encontrar em Portugal, está protegida por leis comunitárias porque está em declínio – e tem um fim de semana comemorado em seu nome a nível europeu.

Pela segunda vez, a data foi assinalada em Portugal com 16 atividades organizadas pelo projeto VACALOURA.pt, espalhadas pelo Norte e Centro do país, e estreou-se em Paços de Ferreira.

Na Capital do Móvel, um grupo de nove participantes liderado por Francisco Leal, um jovem pacense de 23 anos, muniu-se de lanternas, telemóveis – e máscaras – e explorou um carvalhal de Ferreira à procura de vacas-louras e de outros escaravelhos.

Pouco depois das 20:30, o grupo já estava no ponto de partida do percurso: uma quinta da freguesia de Ferreira, onde um conjunto de carvalhos esconde mais que os últimos raios de sol do dia daquele domingo calorento.

Francisco Leal, estudante de Filosofia e um amante da natureza, explicou inicialmente aos participantes um pouco mais sobre a vaca-loura, e como o fim de semana celebrado a nível europeu transcende a espécie.

“O objetivo é, sendo uma atividade mais prática, ficar na memória das pessoas. Queremos tentar trazer as pessoas para as matas e consciencializá-las para a preservação ambiental e de várias espécies autóctones”, afirmou o jovem pacense ao IMEDIATO.  

E uma das metas é também envolver as pessoas, mostrando que qualquer um pode ser voluntário e monitorizar semanalmente um local para registar a presença de escaravelhos – e especialmente de vacas-louras.

“Acho que é uma forma de mostrar às pessoas que não é preciso ser biólogo, basta ter tempo, um telemóvel, interesse e pode-se ir à busca de vacas-louras”, explicou o jovem.

Como já foi sublinhado, a vaca-loura é, na verdade, um escaravelho. E Francisco Leal tem uma teoria para o nome: como os machos têm mandíbulas grandes, fazem lembrar as famosas vacas cachenas que se avistam no Gerês e exibem um vistoso pelo amarelado.

“As vacas-louras gostam muito de carvalhais e avistam-se entre maio e agosto. Infelizmente têm vindo a diminuir, devido ao aumento das áreas urbanas, que diminui a área florestal, as monoculturas, como as de eucalipto, e ainda os incêndios, que destroem tudo”, contou.

Segundo Francisco Leal, a madeira morta é o fator mais importante para o aparecimento das vacas-louras e criam uma espécie de “dependência mútua”, porque apenas certos animais decompõem a madeira morta, que por sua vez é essencial para a sua sobrevivência.

“Quando não há madeira morta, estas espécies não têm onde deixar os ovos e morrem sem deixar descendência”, explicou o pacense, com tristeza notória.

Pacenses “não estão sensibilizados para o ambiente”

Para o jovem estudante de Filosofia, Paços de Ferreira não tem muitos registos de “aparições” de vacas-louras apenas devido à falta de tentativa de as encontrar. “Tenho a certeza de que se as pessoas se envolvessem mais, os registos iam começar a aumentar”, considerou.

Aos olhos de Francisco Leal, os pacenses, de modo geral, “não estão sensibilizados para o ambiente”, servindo como prova casos ambientais como os da poluição do Rio Ferreira e da poluição das matas com resíduos industriais “que perduram durante anos”.

“Acho que as pessoas sentem o impacto destes atos, mas não estão muito informadas sobre o que vêm, ficam-se pela questão visual”, apontou.

Contudo, o jovem também considera que é possível envolver a comunidade nas questões ambientais, e para a vaca-loura, com uma pitada de originalidade.

“É preciso trazer os mais velhos, que já tinham uma certa tradição com a vaca-loura, de fazer amuletos, por exemplo. Traz-se essas histórias e, em poucos anos, os resultados aparecem”, considerou, esperançoso.

No carvalhal de Ferreira, os últimos raios de sol começavam a esconder-se e o grupo ainda não tinha avistado uma vaca-loura. Do nada, ouve-se um bater de asas e a “menina dos olhos” de Francisco Leal apareceu, mas rapidamente escapou antes de ser fotografada.

Mas, uma das participantes tinha vindo preparada e mostrou um exemplar, para que os restantes pudessem ter pelo menos a sensação de pegar e ver de perto o insecto pelo qual procuraram com tanta intensidade durante quase duas horas.

“O projeto da VACALOURA é isto, e já mobiliza por si só. Mas o objetivo é continuar a crescer, porque é uma forma de tirar a ciência das universidades e vir para as ruas”, rematou o jovem.

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