Site icon Imediato – Jornal Regional

Motociclistas levam esperança de Chaves a Penamacor sob a forma de árvores autóctones

les a les
Participe no Pestiscando

A organização tinha prometido um percurso exigente mas bonito, com pouco asfalto e muita diversão ao longo de 334 quilómetros entre Chaves e Penamacor. Mas, no final da primeira etapa do 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, os sorrisos após um dia desafiante e bem passado ultrapassavam, largamente, as marcas da fadiga de uma tirada bastante variada e fisicamente desgastante. Diversidade de percursos e de pisos que estava bem patente, e de forma curiosa, nos tons do pó acumulado no rosto dos aventureiros.

Para começar, os cerca de 250 mototuristas que se lançaram à estrada – ou melhor, para fora-de-estrada – ao raiar do dia, deliciaram-se com caminhos de enorme carga cénica, entre castanheiros e muros centenários, cujo pó fora, felizmente, acalmado pela humidade noturna. Haverá melhor forma de começar o dia? A resposta foi dada pelos sorrisos na primeira paragem do dia, no Oásis preparado pela Jomotos logo a seguir à região aurífera de Jales, explorada desde o tempo dos romanos. Entre uma trinca numa maçã ou numa barra de cereais e um gole de água fresca, partilhavam-se as mais madrugadoras peripécias, num dia que começara fresquinho, mas que prometia temperaturas elevadas.

Um trajeto rolante e divertido, com terra ora mais dura ora mais arenosa, aqui e ali com um pouco mais de pedra solta, mas sem dificuldades de maior. E sempre com ligações muito pequenas em asfalto, permitindo aos adeptos do todo-o-terreno fazer aquilo que mais gostam…

Panorama que não se alterou quando os soutos e carvalhais transmontanos começaram a ceder lugar aos vinhedos do Douro Internacional, com a diferença de pisos a acompanhar as mudanças na paisagem. Uma Região Demarcada vitivinícola – a mais antiga do Mundo, nunca é demais referi-lo – que mostrou a faceta mais conhecida dos turistas, com vinhas a perder de vista, numa paleta de cores que vai mudando entre o verde e o dourado, passando por vários tons avermelhados e de castanhos agora que as vindimas estão feitas.

Mas, bastou fugir das famosa N222 e atravessar o rio Távora rumo a Tabuaço, para revelar, também, uma parte menos conhecida, atravessando aldeias fora das rotas ‘mercantis’, o Douro genuíno, dos trabalhadores e das gentes da terra que não hesita em assar uns pimentos no meio da rua e convidar os motociclistas mais extrovertidos a parar ‘para um copo’.

São assim as gentes deste Portugal verdadeiro que o Lés-a-Lés, nas suas diferentes versões, procura mostrar desde 1999 e que tanto agrada e continua a surpreender os mototuristas nacionais como os estrangeiros.

Acreditar no futuro da floresta

Uma primeira parte do percurso maravilhosa que seria depois, e apesar dos esforços dos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, ensombrado pelas paisagens calcinadas até depois de Sernancelhe onde todos pararam para mais um reforço alimentar. E que reforço! Do menu constava caldo verde, salada e feijão frade, ovos mexidos com enchidos ou com cogumelos, bifanas e cachorros, e muita fruta, das bananas às laranjas, passando pelas maçãs e deliciosas peras.

Paragem que revelou o bem-estar generalizado da caravana e que nem o negrume ou as dificuldades em ver o percurso nas zonas queimadas e, por vezes, mesmo de respirar, conseguiu destruir. Um triste espetáculo que tocou profundamente o estreante Bruno Oliveira, engenheiro biólogo de formação, que estava “a viver uma grande aventura, até porque nunca andara no monte durante tantos quilómetros”.

A maior curiosidade desta presença passava pela companhia do pai, o bem conhecido António Oliveira, pluricampeão Nacional de Motocrosse e Enduro e participante assíduo deste evento, que “há muito tempo o tentava convencer a participar no Lés-a-Lés Off-Road. Mas por um motivo ou por outro, normalmente impedimentos profissionais, nunca tinha participado. Além de, ao contrário do irmão (Luís, acumulador de títulos de enduro e motocrosse) nunca ter feito competição e por isso ter um ritmo mais… turístico”.

Super satisfeitos na chegada a Penamacor, eram, afinal, o espelho de um pelotão cansado, mas feliz, com ‘tratamento de pele’ que juntava agora o pó beirão. “Um espetáculo de percurso! Paisagens soberbas! A melhor etapa de sempre no Lés-a-Lés Off-Road!” foram apenas alguns dos muitos comentários de regozijo ouvidos no Terreiro de Santo António, mesmo junto à Câmara Municipal de Penamacor e com o castelo templário e a torre de vigia em pano de fundo.

Comentários que no futuro e com o apoio da campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés poderão ser ainda mais expressivos. É que a iniciativa lançada em 2017 pela FMP tem levado ensinamentos sobre a melhor forma de recuperar as áreas ardidas, com recurso à plantação de árvores autóctones. Como aconteceu em Penamacor onde quase centena e meia de crianças do ensino básico ouviram atentamente as explicações sobre as vantagens de optar pelas árvores locais no processo de reflorestação, antes de plantarem três medronheiros e dois sobreiros no pátio da escola. Iniciativa que contou com enorme entusiasmo da edilidade local, marcando presença com as responsáveis florestais e uma equipa de jardineiros municipais, preparando terreno para uma plantação significativa no final do outono.

Exit mobile version