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Teclado hcesar LIX – Apneia Moral

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Estes não são tempos para ser neutral como Suíça, para se lavar as mãos como Pilatos ou para nos abstermos de tudo o que implique um posicionamento claro. Por muito que não queiramos participar em guerras que não compramos, porque achamos que estas só aos outros dizem respeito, na verdade, elas dizem respeito a todos.

Mesmo que nos seja difícil calçar os sapatos dos outros e a empatia não nos mova, coloquemos então o nosso egoísmo em ação, porque mais cedo ou mais tarde, seremos também implicados; nós, os nossos filhos, os nossos familiares, os nossos amigos.

Uma coisa parece-me clara, a apneia moral já não é a forma de lidar com esta tamanha desumanização e falta de compreensão do todo. Parece-me absurda a constante utilização de situações muito especificas e particulares, como arma de arremesso, querendo fazer delas generalizações de um determinado grupo étnico, de uma comunidade, de um género ou de uma orientação sexual.

Se compararmos a nossa vida a uma longa maratona, percebemos que existem diversos fatores a condicionar as performances de cada um, e uma muito evidente, é a de que não partimos todos do mesmo ponto, não estamos todos devidamente equipados e nem todos temos as sapatilhas adequadas. Não ver isto, só pode ser por cinismo ou desonestidade intelectual.

Vejo movimentos que apelam à proteção dos nossos, por via de finas seleções daqueles que merecem partilhar connosco as nossas terras, intenções que rejeitam determinadas origens que consideram menos dignas e que, segundo dizem, irão corromper e violentar o nosso bem-comportado povo; assisto à propagação de ideias sobre as mulheres, parecidas com as que tínhamos a 24 de Abril de 1974, em que os machos alfa detinham a hegemonia do controle de tudo, quer nas suas vidas, quer nas vidas das suas mulheres, deixando para estas o prémio e o conforto de terem conseguido alcançar tão prestigiado homem; observo no discurso das pessoas de bem a exultação do normal e da rejeição dos tons cinza, pois estes carecem de um esforço mental mais elevado para entender a diversidade, para a qual não estamos qualificados e por isso, o mais fácil é recusar a sua existência.

Basta de Mário’s Machado’s, de Numeiro’s e de Maria’s Vieira’s!

Por outro lado, verifico que por mais diferenças que existam entre os seres-humanos, constato que, tal como açúcar harmoniza quase num mesmo sabor todos os cafés, aproximando os maus dos bons e os bons dos maus, também um regulador muito potente que aproxima as pessoas e equilibra a balança é o dinheiro. Por isso, mais do que as questões de género, raça ou sexualidade deveríamos conceber uma sociedade em que a todos fossem dadas umas boas sapatilhas e que lhes fosse permitido arrancar do mesmo ponto de partida e que ao longo desse trajeto, em vez de empurrar para fora da corrida os que fraquejam, tivéssemos a capacidade de lhes dar a mão para os puxar para dentro da corrida.

Agora que o Papa Francisco morreu, que ecoem connosco as suas palavras e que ponhamos em prática o abraço fraterno do todos, todos, todos!

 

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