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Sim é verdade, com o passar dos anos vamos deixando de ser mimeiros e aguentamos estoicamente as adversidades, pois agora é a nós que nos toca suportar as agruras, mas talvez por isso e por estranho que pareça, tendemos a mimar-nos muito mais.

O corpo começa a reclamar atenções e o nosso foco é evitar que ele gema.

Ainda tenho presente a primeira vez em que me foi apresentada a palavra ergonomia e me explicaram que é uma disciplina de estudo, que tem como propósito adequar todo objecto construído ao corpo humano, dotando-a de características de conforto, funcionalidade e rendimento.

Irremediavelmente, desde esse momento a minha validação de todo e qualquer produto tendeu a dar uma especial atenção à sua eficiente concepção ergonómica.

Consigo imaginar a dura e laboriosa disputa a que os designers de produto são sujeitos na criação dos seus objectos, em que preocupação com esta disciplina alicerçada em fatores antropométricos é fundamental e o contraponto com os elementos estéticos que se fundamentam no belo e no sedutor.

Nesta dicotomia confesso que as minhas escolhas foram mudando. Fui deixando para trás a intenção do belo, do artístico, do estilo, no fundo do “ganda’pinta”, e isto se calhar por razões obvias que tem que ver aquela cena que toca a todos chamada envelhecimento e comecei a dar prevalência ao confortável, funcional e prático.

Indiscutível que aquilo que nos é agradável à vista também contribui para o nosso bem-estar e para a nossa felicidade, é sem sombra de dúvida prazeroso identificar o belo e o artístico.

Mas aqui centro a pertinência da minha observação, porque por muito que a aquisição de algum objecto que na nossa opinião é esteticamente sedutor, parece-me que estes aspectos estéticos cumprem mais um papel de validação dos outros do que a validação do teu próprio corpo. Ou seja, muitas vezes sobrepomos a estética ao conforto e à função, agredindo de forma masoquista o nosso belo corpinho.

E como com o passar dos anos este corpinho começa a dar de si e as articulações do esqueleto começam a resmungar com tudo o que são asperezas e então torna-se inevitável começar a dar preferência por tudo o que me não faça gemer, tudo o que não castre a minha já condicionada mobilidade e que não me provoque irritabilidades, calosidades e dores, mesmo que esse objecto seja feio ou de gosto discutível!

Dessa forma reservo a prevalência do belo para tudo aquilo que prescinda de estar em contato com o meu corpo, ou seja um quadro, uma jarra, uma escultura.

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